Arquivo diário: 14 de abril de 2016


SEPARAÇÃO DE PSICOPATA NÃO É SEPARAÇÃO 65

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As vítimas de um relacionamento amoroso com psicopata SEMPRE ouvem: “Esquece, vire a página, perdoe, não vale a pena guardar mágoas, vai viver sua vida” porque as pessoas não têm a mínima ideia do que seja relação amorosa com um psicopata, muito menos o que seja o seu término.

O fato é que esse término jamais ocorre. O que ocorre é uma drástica, incompreensível, absurda e horrenda virada nos acontecimentos.

Num relacionamento amoroso normal, as pessoas podem brigar, e descontar um no outro sua raiva e suas frustrações. Ou então, chegando à conclusão de que não há mais condição de conviver, se separam, cada um partindo pelo seu caminho. Podem encarar os fatos e resolver pendências, para que a separação seja concluída, resolvida, selada. Ou podem não ter maturidade suficiente para tanto, e continuar com pendências que com o tempo terão que ser resolvidas. Podem carregar para a separação a dor de uma traição que, mais cedo ou mais tarde, cobrará seu preço em forma de vingança ou perdão. Mas sempre há a possibilidade de um término, pacífico ou não, doloroso ou não. Há consciência, que pesa quando se consegue enxergar seus próprios atos.

Com um psicopata não existe término. Existe pesadelo. Um pesadelo que lentamente vai substituindo a empolgação inicial, o perfeito caso de amor, o casal perfeito, a história de amor dos contos de fadas tornada realidade, a paixão que elevou você ao sétimo céu, jamais vivida antes (e jamais vivida de novo). E esse pesadelo se instala na vida do parceiro amoroso vitimizado, cobrindo tudo com um manto cinzento, tapando o sol, murchando as flores e espalhando o fétido odor de um conto de terror.

Esse pesadelo é inconcebível para a grande maioria das pessoas. Quando a vítima tenta contar, explicar, nem há palavras para tanto. E as pessoas olham para a vítima, comiseradas, coitada, está magoada, desequilibrada, não é à toa que foi abandonada por aquela pessoa maravilhosa.

Esse pesadelo se compõe de incongruências, tortura psicológica, mentiras, falsidades, síndrome de Estocolmo, roubo de dinheiro, de posição social, de profissão, de autoconfiança e de autoestima, e principalmente de um pedaço da alma da vítima. Esse pesadelo se compõe da síndrome pós-traumática semelhante a estupro e a sequestro combinados. E acrescente-se vampirismo energético, psicológico e emocional. E acrescente-se ainda a campanha de difamação da vítima perpetrada pelo agressor. Isso se não houver enredamento judicial para piorar a situação.

O término não ocorre porque o psicopata não sente a menor responsabilidade em resolver pendências. Se ele ficou com o dinheiro da vítima, ainda arruma um motivo para não devolvê-lo culpando a vítima de alguma coisa. Qualquer coisa. Contanto que ele é que se apresente como vítima, virando a história do avesso. Se ele deixou a vítima sem condições de se aprumar, é mais uma bela razão para ele sair divulgando a torto e a direito como ele é que foi prejudicado pela vítima, embora ele já esteja imediatamente com o parceiro amoroso seguinte, pois parasita não fica sem hospedeiro para se alimentar. E o pedaço da alma que ele roubou não devolve jamais. Você terá que extirpar a necrose que se instalou e construir gota a gota aquele pedaço novamente.

A vítima fica com um cesto cheio de episódios que não fazem lógica, que desafiam o senso comum, que não combinam com a realidade, misturados com espinhos e cobras e escorpiões em meio aos bilhetes de amor, às flores, aos elogios que elevaram você ao paraíso, aos presentes, às marcas da paixão em seu corpo e em sua alma. Porque só a vítima amou. O outro fingiu o tempo todo.

O processo de cura exige um longo e penoso caminho rumo à sanidade física, psíquica, mental e financeira. E esta cura parece que sempre será relativa. Basta um pequeno cutucão no inconsciente para que a ferida sangre novamente. Anos e anos depois.

Aprende-se a conviver com esta ferida na esperança de que com o tempo ela acabe cicatrizando.

É como o boné preto que o estuprador usou quando atacou sua vítima. A qualquer lembrança, semelhança, menção de boné, de preto, o trauma se manifesta novamente. Pois o inconsciente nos protege daquilo que não temos condições de processar, mas não pode evitar um vazamento ocasional. E fará isso até que um dia, finalmente, enterremos o monstro bem morto e saiamos à nova luz.

Separação de psicopata não é separação. É pesadelo que pode voltar a assombrar seus sonhos quando menos se espera.

Júlia Bárány