O psicopata tem uma imagem de si mesmo inflada, grandiosa, apresenta extrema confiança e clareza em suas convicções, porque não sente medo nem dúvida, e essa autoconfiança e certeza eleva o status do psicopata aos olhos dos outros, conferindo-lhe autoridade.
Ele nunca está errado, são os outros.
Para cada situação em que poderia haver dúvida, como a amiga de sua vítima tentando alertá-la de que algo está errado, ele tem uma convicta explicação: “Essa sua amiga tem inveja de você. Não acredite nela.” “Sua mãe não gosta de mim, por isso ela quer arruinar o nosso casamento.” “Seu pai não sabe o que está de fato acontecendo. Ele já está velho.” “Não dê atenção ao que seu irmão está dizendo, ele tem problemas com a esposa dele.” “Eu sempre sou fiel às minhas mulheres. Você está vendo coisas que não existem. Como você é carente!”
Como costumamos confiar no que as pessoas próximas a nós nos dizem, o psicopata precisa retirar essas referências, para que a única referência seja ele mesmo. Assim é que ele tem o controle da visão de mundo da vítima. Isso é feito com tanta sutileza e disfarce, que a vítima não percebe até que esteja totalmente enredada na teia.
Com essas táticas, o psicopata programou o cérebro da vítima para vincular o comportamento dele a uma imagem bondosa, honesta e confiável, porém falsa, que ele apresentou no início, para conquistar sua vítima. Quando o comportamento e a imagem não batem, o problema não é ele e sim todos os outros, inclusive a vítima, que deve estar vendo coisas. Essa é uma tática poderosa para ir minando a confiança em sua capacidade de percepção, que aos poucos vai enlouquecendo a vítima.
A programação é reforçada repetidamente, o que cria como se fossem sulcos no cérebro da vítima pelos quais a informação flui e que são muito difíceis de modificar. É por isso que é tão difícil sair de um relacionamento com esse tipo de criatura sem graves danos à nossa psique.
O comportamento que a vítima vê combina com alguém desonesto, mentiroso, manipulador, explorador, traidor e cruel. Como conciliar as duas imagens?
A isso se soma ainda a opinião dos outros que só veem a grandiosa imagem do psicopata, sem ao menos desconfiarem de sua falsidade. E é a vítima que é julgada louca, problemática, ciumenta, carente e mentirosa. Seus sentimentos são invalidados pelos outros. Isso leva a uma espécie de paralisia.
Como sair disso?
Sem ajuda de um bom terapeuta, de um verdadeiro amigo, é extremamente difícil, porque consiste em reprogramar o cérebro, revalidar percepções e sentimentos, desfazendo uma teia muito bem tecida pelo abusador.
O primeiro passo é começar a acreditar em si mesma, repetir para si mesma: “Eu não estou louca. Eu não fiz nada de errado.”
Aos poucos, sua visão vai ficando mais clara. Ao entender como essas criaturas funcionam e quais são suas táticas, você vai percebendo a terrível crueldade e falta de humanidade delas, e você se torna capaz de reprogramar seu cérebro, refazer sua vida de forma nunca antes imaginada.
Um incrível futuro aguarda você. Acredite.
Júlia Bárány