Por Sandra L. Brown, M.A., (tradução livre por Júlia Bárány)
A questão da cura de relacionamentos amorosos patológicos requer que enfrentemos o dano causado e reconhecer os distúrbios de estresse, ou TEPT (transtorno de estresse pós-traumático) que você esteja sofrendo por causa do relacionamento. É preciso mudar sua vida para poder se curar, mudar seu ambiente físico, e aprender a desenvolver um estilo de vida que ajuda você a se curar emocionalmente, psicologicamente, espiritualmente e sexualmente. Nesse artigo vamos falar sobre o efeito sexual dos relacionamentos patológicos e perigosos.
Ironicamente, os efeitos sexuais dos relacionamentos
patológicos podem ser também efeitos espirituais. Isso é assim porque muitos
efeitos espirituais têm a ver com ligação e vínculo em vários níveis –
incluindo o nível espiritual. Num sentido espiritual, nossa constituição é nos
vincularmos durante experiências sexuais – especialmente as mulheres.
Estudos recentes sobre hormônios e sexo indicam que os
orgasmos sexuais liberam as mesmas substâncias químicas que são liberadas
durante a construção de vínculos com o seu bebê!
Este aspecto fenomenológico nos mostra PORQUE é tão difícil
sair de um relacionamento, mesmo que seja perigoso. Muitos homens perigosos são
hipersexuais e praticam muito sexo. Um monte de sexo é igual a um monte de
oportunidades para vínculos sexuais por meio do orgasmo e estímulo hormonal. Faz
parte da natureza da mulher manter vínculos, não abandonar nem pessoas nem
outros seres vivos. Quanto mais vinculada você se sentir a ele, menos
capacidade você tem de deixá-lo. Quanto mais sexualmente vinculada você estiver,
(o que provoca a mesma sensação de vínculo espiritual – “ele é minha alma gêmea”)
tanto mais difícil e confuso é se desvincular.
Além disso, muitos homens patológicos que são hipersexuais
trazem para o relacionamento muitos desvios sexuais. Pela primeira vez na sua
vida você pode ter sido exposta a condutas sexuais ou aspectos sexuais que você
jamais experimentou antes. Como o abusador é muito bom em manipular, culpar e
recompensar sua “lealdade”, ele pode ter coagido você a condutas sexuais que
violaram seu senso moral ou seus limites sexuais normais. Talvez ele tenha
inserido pornografia no relacionamento, atos sexuais que perturbaram você,
experiências sexuais grupais, relacionamentos de estupro, ou outras violações
sexuais. Além disso, a maioria dos homens patológicos, na sua hipersexualidade,
NÃO é monógama, então você pode ter contraído alguma doença venérea dele.
Essas feridas profundas da alma causam dano não só às suas
emoções. Essas feridas danificam sua espiritualidade e se infiltram na sua
identidade sexual. Uma mulher se sente tão pervertida no que experienciou que
ela pode achar que deve ficar com ele porque nenhum homem “normal” ou “saudável”
vai querer ficar com ela depois do que ela fez no relacionamento sexual com o abusador.
Você pode estar se sentindo viciada nele, no sexo com ele,
ou no sexo com qualquer um. O que você viveu É de fato abuso sexual no
relacionamento. O abusador costuma fazer sua vítima acreditar que ela quis
aquele tipo de relação, que ele apenas satisfez o desvio sexual DELA. Lembre-se,
eles distorcem e subvertem todos os aspectos da verdade!
Os efeitos colaterais sexuais do relacionamento podem
contribuir com o seu transtorno pós traumático geral. É um aspecto que deveria
ser tratado para que você possa resgatar sua identidade sexual. Se não for
tratado, sua identidade sexual machucada pode fazer com que você continue a
agir de forma doentia, a cooperar com os desvios sexuais dele, ou a usar drogas
ou álcool para entorpecer seus sentimentos dolorosos.
Isso também pode aumentar seus sintomas de TEPT, sua
ansiedade e sua depressão, ou deixar você propensa a ficar em relacionamentos
patológicos por causa de se sentir suja ou indigna de relacionamentos
saudáveis.
Você também pode ser impactada espiritualmente, afastando
você da ajuda e do conforto que sua conexão com Deus poderia lhe dar.
A ÚNICA maneira de viver uma vida suave é curar seu lado
sexual e perceber os danos causados à sua sexualidade como parte do quadro
geral dos efeitos de um relacionamento perigoso e patológico.
Procure um bom terapeuta para auxiliar você nesse processo
de cura. E conecte-se à sua espiritualidade.
Chocada e impressionada, você vê o narcisista jogar insultos
e acusações contra você – de novo.
Você precisa contra-atacar e se defender, certo?
Isso é exatamente o que o narcisista quer que você faça,
para poder continuar sugando você para dentro do vórtice dele. Então, você
decide ignorá-lo por um tempo e responder em monossílabos às mensagens dele.
Você acredita que isso vai pará-lo.
Mas não pára. Por quê? Porque os narcisistas malignos não
conseguem processar e experienciar as emoções como as pessoas normais vivenciam.
Em longo prazo, tudo isso vai voltar para cima de você. Infelizmente,
a maioria das pessoas não sabe como reagir às agressões de forma efetiva.
Mesmo assim, é possível alcançar um total livramento do
abuso narcisista.
E com um bom tratamento, você sairá mais forte do que nunca.
Acredita?
Mas antes é preciso entender como a mente maligna do
narcisista funciona e como as pessoas normalmente não entendem o que se deve
fazer.
Ignorar um narcisista
Se você passou um bom tempo pesquisando como lidar com um
narcisista, provavelmente encontrou soluções, entre elas, o tratamento de gelo.
A dica é você simplesmente se tornar chata, insensível,
desinteressante para o narcisista. Se o narcisista não conseguir o suprimento
de energia emocional de você, com sua atenção, ele acabará entediado e vai
procurar outra fonte de alimento.
O objetivo do tratamento de gelo é continuar a comunicação
com o narcisista sem cair na armadilha do interminável ciclo de luta e abuso: o
vórtice narcisista.
Na teoria, isso deveria funcionar.
Mas na prática, não é tão simples.
“Ele quer sua atenção, então pare de lhe dar atenção” é
igual a “Você tem um problema com o álcool, então pare de beber”, ou “ele é
violento com você, então vá embora”. Essa estratégia não funciona para
relacionamentos abusivos. Pois os relacionamentos abusivos têm ganchos e
armadilhas sutis, invisíveis, fabricadas pelos abusadores, que aprisionam a
vítima, que tiram a sua capacidade de agir.
Será possível a vítima ficar totalmente impassível sendo
insultada e violentada? Em ser acusada exatamente daquilo que o abusador faz
com ela? De ver as mentiras escabrosas, os ataques à sua integridade moral, os
roubos de seu dinheiro, seus recursos, sua energia? E por cima de tudo, o
abusador se fazer de vítima e angariar “solidariedade” das pessoas contra essa
horrível pessoa em que ele transformou sua vítima? Em sã consciência, isso é
possível?
Além disso, há situações em que você não pode simplesmente
se retirar da presença do narcisista maligno por causa de ligações familiares
ou profissionais.
Ignorar o narcisista tampouco é uma boa estratégia de
vingança.
O narcisista maligno passou meses, anos, ou até décadas
machucando você toda vez que teve oportunidade para tanto. Ele manipulou suas
emoções, fazendo você acreditar que ELEé
a vítima e VOCÊ a agressora, mesmo em situações em que obviamente ele foi o
agressor.
Quando você consegue um instante de clareza e começa a
identificar os padrões de manipulação, é muito natural que a sua raiva e sua
dor provoquem um desejo de vingança.
Você sofreu terríveis sentimentos de desvalorização, culpa e
vergonha – tudo pelo crime de querer ser amada e respeitada como qualquer ser
humano merece ser.
Quem não iria querer revidar?
É importante lembrar que essa abordagem não funciona na vida
real como parece funcionar na sua imaginação, porque isso implica em evocar as
emoções do narcisista, achando que ele vai sentir o que você sentiu.
Nada mais longe da verdade! O narcisista usa as emoções como
ferramentas para manipular os outros, ele reage para evocar suas reações.
Não se engane: as emoções dele NUNCA são genuínas e ele usa
as suas emoções contra você.
É por isso que simplesmente ignorar o narcisista maligno não
funciona.
Todo aquele que já passou por reabilitação do alcoolismo
sabe que não se pode parar de beber e ao mesmo tempo manter uma garrafa de
vinho no armário.
Um bom e eficiente programa de reabilitação é necessário
tanto para o alcoólatra quanto para a vítima de abuso narcisista.
Antes de continuarmos, você precisa desistir de uma vez por
todas de sua necessidade de vingança, ou mesmo de solução do processo de abuso
que você sofreu nas mãos do narcisista.
A sua vingança efetiva será você construir uma vida plena e
feliz, livre do abuso narcisista.
É isso.
E isso será muito melhor que qualquer vingança ou falso
senso de solução.
Páre de fornecer ao narcisista o alimento de suas emoções. Ignorar
o narcisista apenas o incentiva a continuar rodeando e sugando você. Ele sabe
que você quer respeito, dignidade e amor, então ele finge isso para enganar
você mais uma vez a achar que ele mudou.
Mas essas condutas têm uma única razão: sugar você de volta
como um aspirador de pó. A compaixão que ele mostra é totalmente teatral, nada
é real.
Os narcisistas têm sim, empatia, mas não é a empatia das
pessoas normais. Eles têm o que chamamos de empatia cognitiva, ou seja, eles
entram dentro da mente das pessoas e manipulam suas emoções para proveito próprio.
Alguns até mantém uma conduta positiva durante algum tempo, mas só para voltar
ao abuso logo mais. Portanto, não se engane. O narcisista não mudou.
Será que você entendeu que mesmo essa tática de você tentar
ignorá-lo ele a usa contra você e a favor dele?
Dicas para você se
desvencilhar de fato do narcisista perverso:
SEM CONTATO – essa é a única solução permanente. Termine
qualquer comunicação com o abusador. Evite locais onde ele possa estar. Evite
qualquer possibilidade de encontrá-lo seja pessoalmente seja nas mídias
sociais. É o mesmo que estar na proximidade de um animal peçonhento ou uma
fábrica que emite vapores tóxicos. Estando perto, você é intoxicada, não há
escapatória.
RECONHEÇA O SEU APEGO AO RELACIONAMENTO – você precisa
admitir que você tem algum ganho secundário. Senão, por que você ainda
continuaria com ele? Você tende a ansiar pelo mínimo de atenção que ele possa
lhe dar, assim como um alcoólatra anseia por um gole, mesmo que isso vá
destruí-lo. Atenção negativa parece melhor que nada, para você. Ou então você
ainda tem ilusões a respeito dele, na cegueira que ele provocou em você.
NÃO SE CULPE – o narcisista não sente emoções e jamais sente
culpa. Ele joga insultos e acusações para cima de você, e com isso estabelece
um contato, ainda que extremamente negativo. Não ouça os insultos. Não dê
satisfação. É tudo que ele espera para sugar você de volta.
ADMITA QUE VOCÊ PRECISA DE AJUDA – assim como na recuperação
de drogadicção ou de alcoolismo, você precisa de ajuda, para não ter recaídas.
Você corre o risco de ceder à tentação de responder a um insulto, ou aceitar um
elogio e pronto, você está de novo no ciclo de abuso. Encontre uma terapia
adequada e se cerque de pessoas solidárias, empáticas e prestativas.
IDENTIFIQUE SUAS LIMITAÇÕES – caso o narcisista seja um
parceiro de trabalho ou o pai de seus filhos, talvez você não consiga tirá-lo
de sua vida totalmente. Essas são as situações em que o tratamento de gelo é o
que resta. Fale o mínimo necessário e esteja na presença do abusador o
estritamente indispensável. Mesmo assim, você ainda precisa de uma estratégia
para evitar que o narcisista a sugue e que você tenha uma recaída.
INSTALE OUTRAS FERRAMENTAS – pense em usar apps que
monitoram a comunicação tendo um intermediário entre você e o abusador. Assim
vocês terão uma interação a menor possível e será robótica, não direta. Se esse
recurso não funciona para você, considere pedir a um amigo confiável (ou um
profissional) que sirva de intermediário.
PROCURE UMA TERAPIA ESPECIALIZADA EM ABUSO NARCISISTA
Um narcisista maligno jamais reconhecerá que está errado,
então esperar isso é totalmente inútil.
Você não pode controlar o comportamento dele, somente o seu.
Ignorar um narcisista que ignora você não funciona porque é
fácil demais um narcisista brincar com sua compaixão e se aproveitar do seu
desejo de ser respeitada e amada.
Para empreender um processo seguro e firme de alcançar o SEM
CONTATO e se libertar do abuso para sempre você precisa de orientação e ajuda.
Você merece isso e sairá desse abismo mais forte e feliz.
CASOS EM QUE NEM ISSO FUNCIONA (acréscimo de Júlia Bárány)
Há numerosos casos em que o narcisista maligno, ou psicopata,
continua torturando sua vítima mesmo quando ela está no processo de reconstrução
de sua vida e já há muito se safou desse relacionamento.
É preciso entender que o sucesso da vítima é uma afronta ao
poder destrutivo do abusador. Como é que essa vítima ousa superar, crescer e
ser feliz? Essa imagem de empoderamento da vítima é vista pelo abusador como
ameaça à imagem de vítima que ele espalhou de si mesmo entre as pessoas. Saiba
que ele vai fazer absolutamente de tudo para destruir você, com astúcia, mentiras,
maquinações, testemunhos falsos, entortamento de fatos, ligações escusas, seduções,
discursos, e outras tantas táticas próprias de seres sem responsabilidade, respeito,
empatia, compaixão, solidariedade e principalmente integridade moral.
Qual é a saída? Não desista. Continue no seu caminho de
integridade, ligue-se a forças espirituais, pois contra essas pessoas dedicadas
às trevas um ser humano sozinho não consegue se defender.
Frequentemente encontro pessoas que estão emocional e
psicologicamente devastadas pela ruína de um envolvimento romântico com um
narcisista maligno. Essas mulheres e esses homens são inteligentes, atraentes e
empáticos. No entanto, não conseguem se desvencilhar da insidiosa dinâmica de
abuso e violência. Eles estão viciados.
O trabalho de B. F. Skinner com condicionamento funcional
nos mostra que o que aprendemos é impactado pelo reforço e pela consequência do
castigo/desprazer. Um padrão de intermitente reforço estabelece
imprevisibilidade e confusão. O abusador narcisista capitaliza sobre esse
fenômeno. A mente da vítima se agita para descobrir o que deve fazer para
conseguir reação positiva do abusador narcisista. Eventualmente a dissonância
cognitiva se estabelece e a urgência desesperada de discernir uma razão se torna
a força motriz.
Nesse ponto, a vítima já está capturada num ciclo viciado e ao
mesmo tempo vê o torturador como salvador.
O abusador é deificado pela vítima. A vítima evidencia
sinais da Síndrome de Estocolmo, uma forma de vínculo traumático no qual as
vítimas se apegam patologicamente ao seu perpetrador.
Este apego patológico é uma estratégia de sobrevivência, que
capacita a vítima a se dissociar da dor. Ao negar o horror dessa realidade
traumática e adotar a perspectiva do abusador, a vítima afasta a ameaça de desamparo
e o terror que de fato vivencia.
O locus de controle da vítima fica centrado em apaziguar e
agradar o abusador, mitigando assim o perigo. Com o tempo, a vítima se torna exageradamente
identificada com o abusador, ignorando suas próprias necessidades e assumindo a
responsabilidade pelo “sofrimento” do abusador. A vítima começa a acreditar que
o abuso é culpa sua.
Quando a vítima finalmente chega no fundo e é ou destruída
ou descartada pelo narcisista, ou se confronta com as muitas infidelidades,
surras, ruína financeira, ou outras formas intensas de abuso, ela/ele pode
estar pronto/a para procurar ajuda profissional.
A fim de iniciar um processo de recuperação, é aconselhável
a regra do Não Contato, para romper o vínculo tóxico.
A vítima terá o desafio de lidar com sintomas de
abstinência, caracterizado pela obsessão compulsiva e transbordamento
emocional. Recursos tais como trabalho corporal, meditação e medicação podem
ser necessários para estabilizar o sistema límbico desarranjado da vítima.
Conhecimento é poder. Aprender sobre dependência do
narcisista e identificar traumas arraigados na sua família de origem que tornam
a pessoa vulnerável a ser alvo de vitimização são aspectos críticos da cura. Uma
continuidade no tratamento pode penetrar nas profundezas complexas de resgate e
reconstrução.
Finalmente, a vida depois do abuso narcisista toma um novo
significado para o sobrevivente. Metabolizar a realidade do mal altera a visão
de mundo da pessoa. Esta alteração permite ao sobrevivente cultivar limites
realistas. Ela incentiva o sobrevivente a se comprometer tenazmente com sua
segurança, previsibilidade, e relacionamentos que honram a dignidade pessoal.
“Sempre trate a todos com respeito. Você nunca sabe quem é
um psicopata oculto.” Alex Wayne, Diagnosis
Como é que se identifica um psicopata? Não é nada fácil, mas
os pesquisadores já fizeram muitos progressos nas respostas a essa pergunta.
É de conhecimento comum que os homens, mais do que as
mulheres, tendem a possuir traços psicopáticos. Por exemplo, um estudo com
população carcerária constatou que 31% dos homens atendiam aos critérios, em
comparação com apenas 11% das mulheres.
A psicopatia possui várias dimensões dominantes, incluindo
Impulsividade Autocentrada, Crueldade e Dominação Destemida. A primeira
dimensão, Impulsividade Autocentrada, se associa com impetuosidade,
beligerância e narcisismo.
Crueldade se relaciona com incapacidade de experimentar
importantes emoções sociais como amor ou remorso.
Os psicopatas, a quem claramente falta empatia, estão em
desvantagem – ou assim é que se pensa. No entanto, a empatia requer a consideração
dos sentimentos dos outros, colocar-se no lugar dos outros. Colocar-se exige
energia. Acontece que os psicopatas não reconhecem nenhum “colocar-se”, a menos
que isso envolva passar por cima dos outros para conseguir o que eles querem.
A empatia é construída sobre uma base de emoções. Embora
vitais para a conexão e o significado nos relacionamentos, as emoções costumam
enublar o julgamento. Quando extremadas, as emoções podem de fato impedir a
capacidade do pensar crítico. Lembrem-se, estamos em 2019, o ano em que as
massas estão supersensíveis, com as emoções constantemente enublando o pensamento
racional.
O psicopata, livre de seus grilhões emocionais, está bem
equipado para agir de forma irrestrita e impiedosa. Má notícia para a
sociedade… mas não para o psicopata, especialmente aquele que se consome com
pensamentos de poder e prestígio.
Dominação Destemida, a terceira dimensão da psicopatia, está
associada à insolência e ao desejo por influência social. Contrário à crença
popular, a Dominação Destemida é acompanhada por vários comportamentos
socialmente adaptativos. Equipados com um senso de elegância e poder
interpessoal, temeridade física e resiliência emocional, alguns psicopatas alcançam
grandes feitos. Alguns até se tornam heróis.
Um artigo de 2015, intitulado “Psicopatia bem-sucedida”,
apresenta aos leitores um homem chamado Forest “Tommy” Yeo-Thomas, um demônio atrevido
da vida real. Usando diversos disfarces e documentos falsos, o espião britânico
da Segunda Grande Guerra regularmente escapava de ser capturado pelos nazistas.
Segundo os autores, Yeo-Thomas numa ocasião fingiu ser um cadáver viajando num
caixão.
Conhecido por seus inimigos como o “Coelho Branco”,
Yeo-Thomas certa vez pulou de um trem em movimento. Num gesto diretamente saído
de um filme de Liam Neeson, o nosso herói (anti-herói?) certa vez estrangulou
um guarda carcerário com suas mãos. Quando Yeo-Thomas não estava ocupado
estrangulando nazistas, ele estava ocupado seduzindo belas mulheres.
A maioria das pessoas, presumo, não conhecem a vida e a
época de Yeo-Thomas. No entanto, a maioria conhece James Bond, sua encarnação
ficcional. Sim, Yeo-Thomas inspirou o herói ostentoso, maníaco sexual, bebedor
de Martini do romancista Ian Fleming. O espião WW2 é típico do que na profissão
chamamos de “psicopata bem-sucedido”. Diferente da psicopatia maligna, que
costuma envolver atos criminais e prisão, o “psicopata bem-sucedido” abraça as
trevas para alcançar sucesso de vida real.
Será que os “psicopatas bem-sucedidos” evitam transgredir a
lei porque é “certo”? Não, eles evitam transgredir a lei porque isso faz
sentido. Ao manter seus impulsos na rédea curta, ou pelo menos canalizando-os
numa direção mais lucrativa, os “psicopatas bem-sucedidos” costumam chegar a
ocupar cargos de real importância.
Então, que tipo de profissões atrai psicopatas? A pesquisa
já mostrou que psicopatas são mais prevalentes em determinadas ocupações. Não é
nada surpreendente que eles tendam a gravitar para posições de poder – pense em
CEOs, cirurgiões, advogados, celebridades e políticos.
O vínculo entre política e psicopatia é especialmente
interessante. Em 2004, cientistas pediram a 121 biógrafos presidenciais que
avaliassem 42 presidentes dos Estados Unidos, até inclusive George W. Bush,
quanto aos seus traços pré-eleição de Dominação Destemida, uma das três
dimensões de psicopatia. As descobertas são de leitura interessante. De acordo
com o relatório, Dominação Destemida estava fortemente correlacionada com o desempenho
presidencial em geral, sua orientação, percepção do público, persuasão, e, bem
previsivelmente, disposição para arriscar.
OK, sabemos muito sobre quem
pode ser um psicopata, mas e quanto ao onde?
Existem determinados lugares nos Estados Unidos onde os psicopatas tem maior
probabilidade de aparecer e poluir o ambiente social?
Felizmente para nós, um estudo recente publicado no diário
científico Helyon nos fornece uma
resposta inequívoca. Segundo os autores, que estimaram a prevalência de
psicopatia baseado nos Cinco Maiores traços de personalidade de ordem superior (Abertura
para a experiência, Conscienciosidade, Agradabilidade, Extroversão e
Neuroticismo ou instabilidade emocional), Washington D. C. tem a maior
prevalência de psicopatas. Mestres vigaristas, exímios manipuladores malignos
(Svengali), faz sentido que psicopatas se arrebanhem numa região dos Estados
Unidos sinônima de poder e influência política.
Como o inimitável Jon Ronson escreveu certa vez: “Psicopatas
fazem o mundo girar… a sociedade é uma expressão desse tipo específico de
loucura… Eu sempre acreditei que a sociedade fosse uma coisa fundamentalmente
racional, mas e se não for? E se for edificada sobre insanidade?”
O antigo ditado reza que nunca estamos a mais de dois metros
de distância de um rato. Talvez a mesma coisa possa ser dita de psicopatas.
COMO OS CEOS NARCISISTAS COLOCAM AS EMPRESAS EM RISCO
(tradução livre de Júlia Bárány do artigo original de Jeanne Sahadi, em CBB Business)[i]
Como um chefe que é focado em si mesmo, arrogante, intolerante e hostil quando contrariado influencia uma empresa? Quando lhe falta empatia e explora os outros para o seu próprio benefício?
Uma relação com um indivíduo desses é desesperadora. Mas quando o seu chefe é assim, haverá consequências negativas de longa duração. Estamos falando de narcisistas.
Uma pesquisa recém-publicada pela Stanford University e a Universidade de Califórnia em Berkeley, com o título “Eu te vejo no tribunal[ii]” demonstra que chefes obcecados consigo mesmos têm mais probabilidade de envolver sua empresa em processos nos quais ela é acusada de alguma ofensa. E eles não se dispõem a acordos mesmo quando a sua chance de ganhar é pouca, arrastando o processo e aumentando os custos legais.
“Pessoas com elevados traços narcisistas são menos sensíveis a riscos”, disse Jennifer Chatman, docente de administração na Berkeley Haas School of Business e uma das pesquisadoras do estudo.
Os narcisistas também tendem a desconsiderar reações negativas e confiam veementemente no seu próprio julgamento.
Chatman disse que os processos legais realizados durante a gestão do chefe narcisista costumam tratar não de relevantes assuntos de negócios, mas de práticas administrativas básicas, como irregularidades na contabilidade ou infrações de patentes. Isso talvez seja porque os chefes narcisistas tendem mais a transgredir as regras e criar culturas empresariais de “baixa-integridade” que podem ultrapassar a sua gestão, conforme estudos adicionais de Chatman e outros demonstraram.
E eles preferem recompensar a lealdade a eles à expertise de seus funcionários, garantindo com isso menos capacidade de obter informação verídica, afirma ela.
Então por que as empresas empregam narcisistas?
Os narcisistas se apresentam altamente autoconfiantes e pintam um quadro muito sedutor do futuro, traços necessários para incentivar as equipes para o sucesso.
Um estudo anterior da Universidade da Pennsylvania e Universidade da California em Berkeley[iii] sugere que o campo de atuação empresarial pode estar inclinado a favor de narcisistas em busca de poder. Eles têm um bom desempenho nas entrevistas, e sua atitude superconfiante pode encantar os comitês de busca.
“Temos dificuldade em distinguir entre liderança e narcisismo”, disse Chatman.
É por isso que ela aconselha que ao se buscar um profissional se olhe além de seu desempenho relatado e além do seu carisma. Ela recomenda conversar diretamente com seus empregadores anteriores para obter um quadro melhor do comportamento deles ao longo do tempo, pois o lado mais escuro do narcisismo leva um tempo para aparecer.
Os narcisistas se mostram hipersensíveis quando suas decisões ou sua autoridade são desafiadas. E eles monopolizam o holofote do sucesso.
“Os narcisistas costumam exibir um comportamento interpessoal problemático, exigindo mais crédito por seus resultados positivos, ao mesmo tempo negando créditos aos outros”, disse Chatman.
Não só isso é desesperador para membros talentosos da equipe que merecem os créditos, como também é desmoralizante.
Pontos principais
· Chefes narcisistas colocam empresas em maior risco de serem processadas.
· Eles tendem a não fazer acordos, arrastando os processos e aumentando os custos legais.
· Costumam desconsiderar feedback negativo e tendem a transgredir regras.
· Tendem a recompensar lealdade em detrimento da expertise