DEPRESSÃO


As perguntas o que estou fazendo aqui, quem eu sou, para onde vou, teimam em nos cutucar cada vez mais nos dias de hoje. Enquanto preenchemos nossos dias e nossas horas com mil ocupações em ritmo frenético, parece que essas perguntas se encolhem. Mas basta uma brecha, lá vem elas novamente bater à porta da nossa consciência.

A busca das respostas leva às síndromes modernas, todas relacionadas à nossa alma.

Ansiedade é a alma não se apossar totalmente do sistema metabólico e com isso focalizar excessivamente o futuro. Companheiro inseparável é o medo. Que será que vai acontecer? Será que vou dar conta? Será que serei aceito? Será? Será? Será?

O sofrimento acontece por antecipação. A pessoa se pre-ocupa, ocupa-se antes de se ocupar com o fato de fato, criando com isso um problema inchado.

Localizada no baixo ventre, a digestão fica comprometida, temos sudorese, palpitação, insônia, respiração ofegante, falta de ar.

Ansiedade tem a ver com a troca que fazemos com o ambiente por meio do ar. Este entra pouco e sai pouco, por isso não é à toa que nossas avós diziam: respira fundo e vai em frente.

Ansiedade intensificada leva à angústia e mais ainda, à agonia, batendo às portas do final, da morte, ao fim da respiração.

Uma palavra nas origens de ansiedade é ankh, a cruz ansata egípcia, símbolo do sopro da vida.

Quando a ansiedade não se resolve, chama a agressividade, que vem do mesmo lugar, do metabolismo, acordando em nós os impulsos instintivos de agredir. Não conseguindo aplacar o nosso medo, projetamo-lo para fora, para os outros.

Pânico fica preso no presente. Sem perspectiva do antes e do depois, o medo é levado a tal grau que paralisa. Localizado no sistema neurossensorial, com sede na cabeça, gera a incapacidade de agir. Inspiramos demais e expiramos de menos.

Depressão é a alma não se apossar completamente do sistema rítmico, da respiração e do coração. Localizada no peito, a região mediana do corpo, temos a sensação de um elefante sentado nele, e nos prendendo ao passado.

Culpa, remorso, autoestima baixa, incapacidade de sair da prisão e agir, mexe com os nossos valores, valores de nós mesmos. Perdemos assim a esperança. Depressão é tristeza sem fim. É inspirar de menos e expirar demais.

Inapetência ou gula desmesurada, na tentativa de preencher o vazio com comida, mexe com a energia e o peso. Quando a depressão se intensifica, leva à autoagressão, ao autoaniquilamento.

Depressão pode vir após estresse prolongado, uma doença difícil, uma situação de vida que parece não ter saída, um abuso, breve ou continuado, um trauma não resolvido.

Depressão mata, por isso é extremamente importante que as pessoas ao redor do deprimido se mobilizem para ajudar a tirá-lo desse poço. Depressão mata não porque seja ela própria uma doença fatal, mas porque ela leva ao esgotamento total da esperança, ao desespero. Daí o corpo adoece com câncer e outros males.

Vemos depressão em crianças que resulta do estilo de vida sedentário e sem motivações das crianças metidas em apartamentos, sem contato com a natureza, sem espaço para correr, brincar, subir em árvores, mexer na terra, explorar o mundo. Criança metida no mundo virtual bidimensional vai definhando. Sua capacidade de raciocínio é limitada porque o raciocínio nasce da exploração do espaço e da manipulação dos objetos nesse espaço, na observação de como as coisas funcionam, para depois ir adentrando a abstração.

A depressão também resulta da falta de contato com outras pessoas, contato verdadeiro, vivo, presencial. Falar com alguém por meios eletrônicos é uma ilusão de contato, não é contato real. Somos criaturas essencialmente sociais, e quando ficamos isolados, perdemos a noção da teia da qual fazemos parte, queiramos ou não, saibamos ou não.

Depressão se instala quando perdemos de vista os nossos objetivos, os nossos ideais. Quando perdemos de vista a dimensão maior da vida, a espiritualidade. Não há pelo que lutar, pelo que se esforçar. Desistimos e deprimimos.

 

As três, doenças da alma da nossa época, se forem tratadas só com remédios, não se resolvem. Porque a alma clama por uma mudança de vida, de perspectiva, clama por encontrarmos as respostas às perguntas que mesmo que não as tenhamos conscientes, nos cutucam o tempo todo.

É preciso de um processo terapêutico para que encontremos o rumo e o significado de nossa vida.

Se tomarmos muito remédio, que é necessário emergencialmente, abafamos, anestesiamos a capacidade de processar de forma consciente os medos e as perguntas, atividade mesma de cura. Os remédios nos dão a ilusória sensação de que “está tudo bem” quando sob a superfície não está tudo bem.

Todas as doenças começam na alma, então é lá que a cura precisa alcançar.

Recomeçar a vida, renovando por dentro, para que esta renovação se manifeste fora, e reconquistemos um lugar bom para todos vivermos.

Júlia Bárány

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