OS TIJOLOS DO CARÁTER PSICOPÁTICO


O aspecto emocional e interpessoal da “falta de empatia”

De Christine Louis de Canonville, tradução de Júlia Bárány

 

Os psicopatas mostram falta de sentimentos para com as pessoas em geral; eles são frios, desdenhosos, sem consideração, e lhes falta tato (Hare, 1999).

Esta falta de empatia é a base de muitas características deles – mentira patológica, emoções rasas, violência chocante, falta de vergonha, egocentrismo, falta de remorso, enganação, manipulação, etc.

Tendo sua empatia literalmente “desligada”, insensíveis, eles pensam somente em si mesmos.

Parece que não ter empatia surge de anormalidades no circuito da empatia do cérebro, deixando os psicopatas subdesenvolvidos nas reações empáticas.

Por isso, eles podem ser determinados e insensíveis, e indiferentes aos direitos e ao sofrimento dos outros. Eles são tão famintos emocionalmente quanto os androides. Sem a capacidade de experienciar ligações emocionais reais, eles não possuem senso de dever moral com relação a ninguém além de seus próprios interesses.

Eles tratam os vulneráveis com desdém porque os psicopatas veem a vulnerabilidade como fraqueza. Para eles, quem é fraco merece ser explorado. Incrivelmente, eles conseguem justificar suas ações, e até racionalizar que eles, de alguma maneira, são de fato a vítima. Esta falta de empatia permite-lhes desumanizar as pessoas em meros objetos para serem manipulados. A psicopatia começa cedo na vida (no que tem sido rotulado “distúrbios de conduta infantil”).

Esses indivíduos podem ter torturado animais, abusado de membros da família ou cometido atos a sangue frio contra os outros enquanto cresciam. Parece que essa falta de empatia os deixa incapazes de se colocar no lugar do outro a fim de entender e identificar-se com suas situações e seus sentimentos. É como se os psicopatas simplesmente carecessem da capacidade de construir fac-símiles mentais e emocionais de outra pessoa. Por falta de empatia, os psicopatas são muito atraídos a pessoas altamente empáticas como fonte de suprimento.

Os empatas são capazes de se colocar nos sapatos do narcisista, dando-lhe o cuidado, o calor, o consolo e a atenção que ele anseia. Infelizmente, a empatia da vítima também os arma de forma que alimenta a necessidade psicopática de poder e domínio, dando ao psicopata o controle sobre as emoções de sua vítima e mantendo-a enganchada no relacionamento.

Porém, eu não estou convencida de que o cociente empático do psicopata esteja preso no zero. Provavelmente, os psicopatas sabem como ligar e desligar seus interruptores de empatia, e até misturam empatia para capturar o estado emocional do outro. Isso os torna mais eficientes quando se trata de saber quais botões apertar com o propósito de o outro morder a isca e se enganchar no anzol.

Eles também parecem saber como usar a empatia como um solvente para resolver problemas de relacionamento e penetrar na mente dos outros. De fato, sua compreensão de empatia lhes permite usá-la a seu próprio favor tornando-se altamente competentes e eficientes na variedade e no alcance do abuso. Mas empatia é uma emoção complexa, portanto é preciso entender de início que as pessoas podem cometer as coisas mais horríveis, identificando-se intimamente com suas vítimas, e aprender a viver com a angústia que se acumula (Turvey, 2012).

Há muitos incidentes de psicopatas que mostraram empatia para com suas vítimas na cena de um crime. Por exemplo, o estuprador estendendo um casaco para sua vítima, ou o sequestrador decidindo não machucar uma vítima quando ela chora, e até devolvendo-a para o lugar de onde a sequestrou. Às vezes o psicopata irá concordar com considerar um pedido da vítima, como usar um preservativo durante o estupro, desamarrando suas mãos ou pedindo desculpas depois da ofensa.

O que o psicopata realmente carece é geralmente um senso de compaixão. Michael Stone, um psiquiatra forense, afirma que os psicopatas usam a empatia a seu favor. Mesmo os assassinos em série sabem que quando uma criança chora, ela está sofrendo provavelmente porque foi separada de sua mãe. Enquanto uma pessoa compassiva sente tristeza pela criança e toma medidas para encontrar a mãe, o psicopata usa a oportunidade para levar a criança pela mão e finge levá-la para a mãe, mas em vez disso a sequestra (como foi o caso de Jamie Bugler, de dois anos de idade, que foi assassinado por dois garotos de dez anos de idade, Venables e Thompson).

Falta de empatia é um aspecto essencial do distúrbio de personalidade narcisista (DPN), e é o que mantém o narcisista patológico preso nas suas posições constantes de adversidade e oposição.

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