Arquivo mensal: maio de 2018


O PODER DO DIÁLOGO INTERIOR CONSTRUTIVO

(por Júlia Bárány, baseado no artigo de Christine Hammond, em: https://pro.psychcentral.com/exhausted-woman/2018/05/the-power-of-intentional-self-talk/?utm_source=Psych+Central+Professional&utm_campaign=1bc36b5c2a-PRO_B_EMAIL_CAMPAIGN_COPY_01&utm_medium=email&utm_term=0_7ef5d0b4f0-1bc36b5c2a-30460681)

 

Muitos de nós crescemos ouvindo frases depreciativas sobre nós pronunciadas por nossos pais, e depois por nossos cônjuges, como “Você é um bobo/a”, “Você nunca vai dar certo na vida”, “Todos conseguem boas notas, menos você”, “Olha o seu irmão como é popular, você não, é um fracote”, “Ninguém quer você”, “Você é muito feio/a”, “Você é um perdedor”, “Você é um fracasso”, “Lamento o dia em que você nasceu”, “Eu nunca quis ter filhos, agora tenho que aturar você”, “Você é um estorvo na minha vida”.

Chega, não?

O pior é que essas frases ficam reverberando na nossa mente mesmo depois que nossos pais não estão mais conosco ou depois que nos separamos do cônjuge abusivo. Acreditamos nessas frases como sendo verdadeiras e continuamos pronunciando-as para nós mesmos num diálogo interior depreciativo. E essas maldições (porque são maldições mesmo!) se realizam na nossa vida. Não conseguimos progredir, não conseguimos encontrar amor na nossa vida, e estamos sempre por baixo, deprimidos e derrotados.

É preciso mudar este diálogo interior!

A cada frase negativa escreva uma frase positiva: “Eu sou inteligente”, “Eu serei bem-sucedido em tudo que empreender”, “Eu serei valorizado e apreciado”, “Não importa os outros, eu sei que sou bom”, “As pessoas vão perceber o meu valor”, “Sou atraente do meu jeito”, “O que eu quero fazer vai dar certo”, “Agradeço o dia em que nasci”, “Vou conseguir vencer minhas dificuldades”…

Essa lista de frases construtivas anula o efeito das frases negativas! Coloque-a num lugar da sua casa onde você possa lê-las frequentemente, até que as outras frases negativas percam por completo o poder sobre você. Parabéns, você mudou o seu diálogo interior e se tornou dono de sua própria vida.

 

O/a abusador/a psicopata muitas vezes entra na nossa vida por esta porta vulnerável. Ele/ela cria uma falsa apreciação de nós, contrária a essas frases negativas que ouvimos na infância, e nos agarramos a essa pessoa que enfim nos valoriza. Só que o psicopata o faz unicamente para conquistar você. Na fase do descarte ele volta a pronunciar essas frases negativas, e você cai na armadilha mais uma vez.

Ao fazer o exercício acima, e mudando o seu diálogo interior, você nunca mais cairá nessa armadilha. Você não dependerá de ninguém para saber que você tem valor. Você está livre.


COMO É POSSÍVEL ESTAR APAIXONADA PELO SEU ABUSADOR?

COMO É POSSÍVEL ESTAR APAIXONADA PELO SEU ABUSADOR?

Por Júlia Bárány, baseado no texto de Donna Andersen: https://lovefraud.com/vicky-cilliers-is-unable-to-acknowledge-that-her-husband-tried-to-murder-her-by-tampering-with-her-parachute/

 

Ouço histórias contadas por advogados que tentam por todos os meios legais proteger as vítimas de abuso psicopata quando, no momento crítico, quando o caso parece que vai se resolver, a própria vítima passa a defender o seu abusador. Então o caso desmorona e a vítima perde tudo a que tinha direito, e às vezes mais.

Também em situações sociais ou familiares isso acontece: a vítima que sofre de abuso na intimidade do lar, defende perante os outros o próprio abusador, anulando qualquer chance de se livrar do abuso.

Donna Andersen, em seu artigo acima citado, conta a história de Victoria Cilliers, a segunda esposa de Emile, que foi condenado diante de provas irrefutáveis, por ter tentando matar sua mulher e seus dois filhos.

Emile Cilliers é um sargento do exército britânico. Em abril de 2015 ele danificou o paraquedas de Vicky antes de ela saltar (os dois praticavam o paraquedismo). Ela caiu por 1.300 metros, ficou gravemente ferida, mas milagrosamente se salvou. No início daquela mesma semana, Emile danificou o encanamento de gás da casa deles. Caso tivesse explodido, teria matado Vicky e os dois filhos.

Embora o tribunal o julgasse culpado, Vicky não consegue acreditar que o marido seria capaz de assassiná-los. Ela declara que não pretende divorciá-lo e disse aos filhos que o pai “está fora trabalhando”.

As evidências de que Emile Cilliers é um psicopata são:

Ele tentou matar sua esposa duas vezes no espaço de uma semana.

Ele queria estar com sua amante e se livrar das dívidas – matando Vicky e recebendo o seguro de vida dela ele realizaria as duas coisas.

Ele mentia. Muito.

Ele tinha dois filhos com sua namorada da adolescência e os abandonou a todos.

Ele se casou com a primeira esposa sem terminar o relacionamento com a primeira namorada.

Ele se casou com a segunda esposa, Vicky, mas continuou frequentando a cama da primeira esposa.

Ele praticava sexo casual e frequentava clubes de sexo.

Ele buscava excitação a todo custo.

Ele proclamava sua inocência apesar de substancial evidência de ser culpado.

 

Vicky admite que o marido mentia, desviava dinheiro e a traía. Então, por que ela não acredita que ele podia matá-la?

A resposta: dissonância cognitiva, vício no psicopata e Síndrome de Estocolmo, ou vínculo traumático.

Dissonância cognitiva é um estado que se baseia na necessidade de os seres humanos estabelecerem harmonia entre suas crenças e suas ações. A dissonância e o conflito são gerados quando não há essa harmonia, quando acreditamos em algo que depois os fatos desmentem, ou quando nossas crenças e nossas ações não combinam.

Para resolver essa dissonância, lançamos mão das seguintes estratégias:

  1. Mudamos a crença ou a conduta
  2. Buscamos novas informações que contrapesam a crença dissonante
  3. Reduzimos a importância das crenças

Como é que uma pessoa se vicia no psicopata?

  1. O prazer do início do relacionamento estabelece um vínculo psicológico.
  2. A segunda fase do relacionamento, quando o psicopata começa a criar medo e ansiedade, ameaça de abandono, tratamento dúbio uma vez agrada outra vez repele, fortalece o vínculo psicológico.
  3. A vítima busca alívio da angústia e do medo junto ao próprio psicopata, o que estreita ainda mais o vínculo psicológico.

Segundo Donna Andersen, Vicky já tinha o vínculo traumático com o abusador antes do acidente com o paraquedas. Tendo que lutar com as graves consequências do acidente e dois filhos pequenos, sua psique estava sobrecarregada. Ela não conseguiria processar mais um choque que é o fato de o marido ser um assassino. Negando, ela se protegeu de algo que a poderia desestruturar completamente. Talvez um dia ela seja capaz de ver os fatos como eles são.


OS TIJOLOS DO CARÁTER PSICOPÁTICO

O aspecto emocional e interpessoal da “falta de empatia”

De Christine Louis de Canonville, tradução de Júlia Bárány

 

Os psicopatas mostram falta de sentimentos para com as pessoas em geral; eles são frios, desdenhosos, sem consideração, e lhes falta tato (Hare, 1999).

Esta falta de empatia é a base de muitas características deles – mentira patológica, emoções rasas, violência chocante, falta de vergonha, egocentrismo, falta de remorso, enganação, manipulação, etc.

Tendo sua empatia literalmente “desligada”, insensíveis, eles pensam somente em si mesmos.

Parece que não ter empatia surge de anormalidades no circuito da empatia do cérebro, deixando os psicopatas subdesenvolvidos nas reações empáticas.

Por isso, eles podem ser determinados e insensíveis, e indiferentes aos direitos e ao sofrimento dos outros. Eles são tão famintos emocionalmente quanto os androides. Sem a capacidade de experienciar ligações emocionais reais, eles não possuem senso de dever moral com relação a ninguém além de seus próprios interesses.

Eles tratam os vulneráveis com desdém porque os psicopatas veem a vulnerabilidade como fraqueza. Para eles, quem é fraco merece ser explorado. Incrivelmente, eles conseguem justificar suas ações, e até racionalizar que eles, de alguma maneira, são de fato a vítima. Esta falta de empatia permite-lhes desumanizar as pessoas em meros objetos para serem manipulados. A psicopatia começa cedo na vida (no que tem sido rotulado “distúrbios de conduta infantil”).

Esses indivíduos podem ter torturado animais, abusado de membros da família ou cometido atos a sangue frio contra os outros enquanto cresciam. Parece que essa falta de empatia os deixa incapazes de se colocar no lugar do outro a fim de entender e identificar-se com suas situações e seus sentimentos. É como se os psicopatas simplesmente carecessem da capacidade de construir fac-símiles mentais e emocionais de outra pessoa. Por falta de empatia, os psicopatas são muito atraídos a pessoas altamente empáticas como fonte de suprimento.

Os empatas são capazes de se colocar nos sapatos do narcisista, dando-lhe o cuidado, o calor, o consolo e a atenção que ele anseia. Infelizmente, a empatia da vítima também os arma de forma que alimenta a necessidade psicopática de poder e domínio, dando ao psicopata o controle sobre as emoções de sua vítima e mantendo-a enganchada no relacionamento.

Porém, eu não estou convencida de que o cociente empático do psicopata esteja preso no zero. Provavelmente, os psicopatas sabem como ligar e desligar seus interruptores de empatia, e até misturam empatia para capturar o estado emocional do outro. Isso os torna mais eficientes quando se trata de saber quais botões apertar com o propósito de o outro morder a isca e se enganchar no anzol.

Eles também parecem saber como usar a empatia como um solvente para resolver problemas de relacionamento e penetrar na mente dos outros. De fato, sua compreensão de empatia lhes permite usá-la a seu próprio favor tornando-se altamente competentes e eficientes na variedade e no alcance do abuso. Mas empatia é uma emoção complexa, portanto é preciso entender de início que as pessoas podem cometer as coisas mais horríveis, identificando-se intimamente com suas vítimas, e aprender a viver com a angústia que se acumula (Turvey, 2012).

Há muitos incidentes de psicopatas que mostraram empatia para com suas vítimas na cena de um crime. Por exemplo, o estuprador estendendo um casaco para sua vítima, ou o sequestrador decidindo não machucar uma vítima quando ela chora, e até devolvendo-a para o lugar de onde a sequestrou. Às vezes o psicopata irá concordar com considerar um pedido da vítima, como usar um preservativo durante o estupro, desamarrando suas mãos ou pedindo desculpas depois da ofensa.

O que o psicopata realmente carece é geralmente um senso de compaixão. Michael Stone, um psiquiatra forense, afirma que os psicopatas usam a empatia a seu favor. Mesmo os assassinos em série sabem que quando uma criança chora, ela está sofrendo provavelmente porque foi separada de sua mãe. Enquanto uma pessoa compassiva sente tristeza pela criança e toma medidas para encontrar a mãe, o psicopata usa a oportunidade para levar a criança pela mão e finge levá-la para a mãe, mas em vez disso a sequestra (como foi o caso de Jamie Bugler, de dois anos de idade, que foi assassinado por dois garotos de dez anos de idade, Venables e Thompson).

Falta de empatia é um aspecto essencial do distúrbio de personalidade narcisista (DPN), e é o que mantém o narcisista patológico preso nas suas posições constantes de adversidade e oposição.


COMO SEU CÉREBRO ADMINISTRA UM TRAUMA

tradução livre por Julia Bárány de trechos de https://lovefraud.com/after-the-sociopath-managing-how-my-brain-manages-trauma/

 

Depois que você sofreu um trauma, seu cérebro assume uma tarefa. Ele se compromete a proteger você pelo resto da vida. Dali em diante, seu trabalho é de garantir que você sempre esteja totalmente seguro.

Ao adormecer você se torna vulnerável, entregue ao ambiente e às circunstâncias sem poder se proteger. Nesse estado você poderá ser traumatizado novamente, e foi o que aconteceu quando você era criança, por exemplo. Os pensamentos e as imagens que inundam sua mente quando você tem insônia são manobras do seu cérebro para manter você acordado e poder se defender caso necessário.

Você pode ver imagens de violência, ter pensamentos de situações amedrontadoras, de impotência, de angústia, de ansiedade, e isto tudo é calculado pelo seu cérebro para que você se mantenha vigilante. Esses pensamentos não cessam porque o comprometimento do seu cérebro é com sua proteção.

Então o que fazer?

Tenha uma vida apaixonante, viva bem o seu dia a dia, e transforme suas horas acordadas em horas significativas e com propósito.

As imagens de violências vão continuar ocorrendo, mas se você for dormir após um dia bem vivido, terminando-o satisfeito consigo mesmo, elas tenderão a durar pouco. Sua satisfação por ter feito o melhor que pode do seu dia o acalentará para o sono.

O seu cérebro ama você do melhor jeito que consegue. Então use o exercício de contar carneirinhos e coloque no lugar dos carneirinhos os vários momentos de prazer que você conseguiu ao longo do seu dia.