VULNERABILIDADE


 

vulnerabilidade

(inspirada por e interpretando a palestra de Brene Brown[1] por Julia Bárány)

“Nessa palestra, Brene Brown analisa, após anos de profunda pesquisa, como o fator vulnerabilidade se revela decisivo para as interações humanas, o senso de comunidade e, mais amplamente, para a capacidade humana de sentir empatia e pertencimento.”

Para não ter caído na armadilha, você deveria ser invulnerável. Essa é a crença.

A realidade é bem outra.

Conexão é o que dá sentido às nossas vidas. Estamos aqui para nos relacionar com os outros. Somos construídos neurobiologicamente para nos conectar. O medo de nos desconectar e com isso colocarmos a nossa sobrevivência em risco vem da vergonha e do próprio medo. A vergonha se baseia na crença de não sermos bons o bastante. Mas o que fundamenta tudo isso é uma angustiante vulnerabilidade. Para que a conexão ocorra, é preciso permitir que os outros nos vejam. Para deixar que os outros nos vejam, precisamos nos sentir merecedores de atenção. Para nos sentirmos merecedores de atenção, precisamos de um sentimento de pertencimento e de amor, de amar e sermos amados. Quem se sente merecedor de pertencimento e de amor é porque acredita que merece pertencimento e amor. Portanto, o medo de não merecermos conexão é o que nos impede de nos conectarmos.

Para nos sentirmos merecedores de conexão, precisamos de coragem e de compaixão. Coragem não é ousadia, é agir a partir do coração. A palavra coragem vem de cor, cordis que é coração em latim. O significado original de coragem é contar sua história com a integridade de seu coração. Então, é preciso ter coragem de ser imperfeito.

É preciso ter compaixão consigo mesmo primeiro para depois ter compaixão para com os outros. Então a conexão acontece como consequência da autenticidade. Isso significa desapegar-se do que você deveria ser e simplesmente ser o que você é, uma condição indispensável para se ter conexão. Com isso é preciso abraçar totalmente a vulnerabilidade. É se abrir sem garantias.

Vulnerabilidade se fundamenta em vergonha, em merecimento, em pertencimento, mas também é fonte de alegria, criatividade e amor.

Todos nós batalhamos com a vulnerabilidade. E o que fazemos com ela? Nós a anestesiamos. Mas nós vivemos num mundo vulnerável. Aprendemos a anestesiar nossa vulnerabilidade com dívidas, comida, vícios e medicamentos. Mas quando recorremos à anestesia, anestesiamos todas as emoções, pois não dá para sermos seletivos nisso. Anestesiamos alegria, anestesiamos gratidão, felicidade. O resultado é infelicidade, vulnerabilidade, que nos impele a buscar soluções. Entramos no ciclo de infelicidade, anestesia, mais infelicidade.

A anestesia pode ocorrer de várias maneiras, não só pelo vício. Podemos tornar certo tudo o que é incerto. Podemos nos entregar à religião das certezas e abandonar a fé e o mistério. Entregamo-nos ao ciclo da culpabilização, que em pesquisa se define como uma maneira de descarregar dor e desconforto. Buscamos a perfeição.

Mas precisamos aceitar a imperfeição, porque ela é real. Perfeição não é.

Fingimos que o que fazemos não tem efeito nos outros. Só precisamos ser autênticos e reais. Reconhecer nossos erros e consertá-los.

É preciso deixar que os outros nos vejam de forma profunda e vulnerável, amar de todo o coração, mesmo sem garantias, o que é extremamente difícil. Praticar gratidão e alegria.

Ser vulnerável é estar vivo. Acreditar que somos suficientes. Porque então paramos de gritar e passamos a ser gentis e generosos conosco e gentis e generosos com os outros.

 

Aqueles que caem na armadilha do psicopata são seres humanos imperfeitos e vulneráveis como todos os seres humanos são. Os psicopatas sabem muito bem como usar a imperfeição e a vulnerabilidade das pessoas a seu favor. Essa é a técnica manipulativa desses predadores. Portanto, não podemos nos culpar por sermos imperfeitos e vulneráveis.

Após uma experiência com um psicopata, o sobrevivente, devastado, tem um caminho a percorrer de volta à sua humanidade.

[1] Brené Brown (Palestra em português https://www.youtube.com/watch?v=n7tql5Oxol4, originalmente em inglês http://www.ted.com/talks/brene_brown_on_vulnerability)

 

(Trecho de nossa futura publicação: Manual de sobrevivência para vítimas de psicopatas)

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