Arquivo anual: 2017


DEPOIS DE SE LIVRAR DE UM PSICOPATA, OUTRO APARECE

Por Donna Andersen, traduzido por Júlia Bárány

Original em: https://lovefraud.com/after-getting-rid-of-one-sociopath-another-sociopath-shows-up/

 

Ao longo dos anos, ouvi de muitos leitores de Lovefraud que eles estavam irritados, bravos e aterrorizados. Esses leitores haviam entendido finalmente com o que estavam lidando – um psicopata. Eles conseguiram se extirpar dos relacionamentos e não tiveram mais contato com esses indivíduos com transtornos. E o que aconteceu? Outro psicopata entrou nas suas vidas.

Os leitores perguntaram: O que está acontecendo? Por que eles não conseguem me deixar em paz? Será que sou um imã para psicopatas?

A resposta é: não necessariamente. A seguir coloco algumas observações para ampliar a perspectiva da situação.

 

Milhares de psicopatas

Esses indivíduos portadores de transtornos estão por toda parte. Enquanto vivermos neste planeta, enfrentamos a possibilidade de topar com eles.

Peritos estimam que 1 a 4 por cento da população corresponde aos critérios de psicopatia ou distúrbio de personalidade antissocial. Mas se você acrescentar os narcisistas e os portadores de distúrbio de personalidade bordeline, 12 a 16 por cento da população é de predadores sociais. Nos Estados Unidos, isso significa cerca de 40 milhões de pessoas. Com tantos deles aí fora, não é de surpreender que topemos com eles.

 

Reconhecimento mais rápido

A má notícia é que esses leitores se viram lidando com outro psicopata. A boa notícia é que eles se deram conta muito mais rápido com quem estavam dessa segunda vez.

Acho que estes leitores deveriam interpretar sua experiência mais recente como sinal de crescimento. Sim, outro psicopata entrou em suas vidas, mas eles detectaram o predador! Eles conhecem os sinais de alerta e ouviram seus instintos! Isso é progresso! Isso é bom!

 

Mais cura

O fato de que outro psicopata apareceu pode também indicar que estes leitores ainda têm mais processo de cura a realizar. Os psicopatas farejam vulnerabilidades, como os tubarões farejam sangue na água. Talvez os leitores precisem procurar dentro de si mais feridas que precisam ser cuidadas.

Lembrem-se, os psicopatas entraram em nossas vidas explorando vulnerabilidades. Depois disso, precisamos nos recuperar do encontro desagradável com o psicopata. Mas nós também precisamos curar a ferida anterior, mais profunda que permitiu ao psicopata nos escolher como alvo. Talvez tenhamos sido negligenciados quando crianças ou sofremos abuso num relacionamento anterior. Ou talvez tivéssemos crenças negativas sobre nós mesmos – de que éramos indesejados ou não merecíamos amor. Ao cuidar de e curar nossas vulnerabilidades, protegemo-nos de mais dor.

 

Como se manter seguro

O fato básico é que milhares de psicopatas vivem entre nós, portanto, as chances são altas de que em algum momento topemos com eles. A seguir coloco três passos para nos proteger:

  1. Saiba que psicopatas existem
  2. Conheça os sinais de alerta do comportamento do psicopata
  3. Preste atenção aos seus instintos

A nossa intuição serve para nos proteger dos predadores. Quase sempre nos diz, no início do envolvimento, de que há algo de errado com o indivíduo. O truque é prestar atenção e agir.

Todos esses leitores fizeram isso. Então, sim, é irritante encontrar outro predador. Mas pelo menos eles se livraram deles rapidamente, antes que esses causassem muito dano. Esses leitores de Lovefraud deveriam ter orgulho de si mesmos.

 


Vem chegando o Manual de sobrevivência para vítimas de psicopatas!

PARA OS SOBREVIVENTES

 

Este livro é para você. Para você que custa a reconhecer-se no que sente hoje. Para você que se sente esgotado – esgotado em seu físico, em seus sentimentos, em sua mente. Como se tivesse sido sugado e todas as suas forças o tivessem abandonado. E qualquer movimento que você faça, o sentimento é de que esse vazio e esse esgotamento cada vez aumentam mais e mais.

Se você chegou até este livro, talvez venha sentindo necessidade de encontrar respostas. Talvez as esteja procurando há muito tempo. Talvez você não saiba exatamente o que aconteceu, mas há uma indignação avassaladora que cresce dentro de você, ao lado de uma luta interna absurda entre a repulsa e o anseio inaceitável por alguém que lhe provoca sofrimento. É aí (você sabe sem talvez conseguir admitir até o fim) que reside o início de tudo.

Parece haver uma parte sua que se foi. A alegria que costumava sentir está encoberta. Qualquer coisa que lhe aconteça fica sombreada por essa atmosfera densa que pontua todos os seus dias.

Tanto faz se você é um homem ou uma mulher: há dias em que você acorda e não se reconhece ao espelho. Onde está aquele ou aquela que costumava saudar o novo dia com esperança e contentamento? Que tsunami é esse que varreu sua vida? Que dor e desânimo são esses que preenchem seus dias e suas noites?

Seus familiares, seus amigos, seu trabalho: tudo entrou em colapso. Ou se afastaram, ou você mesmo se afastou. A sua autoconfiança desapareceu, tragada por algum lamaçal inconcebível. A sua autoestima seguiu o mesmo caminho. Logo você, para quem as pessoas olhavam com confiança e admiração.

É difícil saber ao certo quem você é hoje. O peso em seu peito, a sensação insuportável de ter sido traído no mais profundo de sua humanidade, nublam a sua capacidade de pensar e de ver a realidade com clareza. Você parece ter sido contaminado por algum veneno, que aos poucos se infiltra em todas as suas células. Como se estivesse intoxicado.

As pessoas cobram-lhe atitudes. Você não as entende e nem consegue assumi-las. Ninguém acredita mais em suas palavras. Nem você mesmo. As suas tentativas de resolver a situação não deram certo. Na realidade, o resultado parece ter sido o oposto. A cada dia que passa, a cada resolução tomada e não cumprida, você se sente mais confuso, mais deprimido, mais sofrido.

 

Saiba que você não está sozinho.

Muitos passam ou passaram por esse lugar por onde você caminha.

Você não está louco: fizeram-no acreditar que está.

Você não é culpado: fizeram-no acreditar que é.

Se você assentiu com a cabeça ao ler as linhas precedentes, é porque você está convivendo com todos os sintomas de abuso emocional. E é preciso saber que existe uma saída.

A porta para a saída é entender do que se trata e tomar as medidas necessárias. Há um longo, penoso, mas certeiro caminho de recuperação à sua frente. É claro que não será fácil. Mas quando você, ao atravessar o deserto, se restabelecer um pouco no oásis que este manual lhe oferece, perceberá uma nova vida do outro lado, uma vida que você jamais poderia imaginar. Você terá morrido e nascido de novo. E encontrado companheiros de caminhada que sabem do que você fala, entendem o que você sente e lhe estenderão a mão com o olhar amigo de quem passou por esse mesmo lugar e sabe que é possível sair.

Seja bem-vindo a um novo momento da sua vida.

 

Passo a passo, vamos desanuviar o entendimento. Retirar as camadas densas de nuvens que têm impedido de ver a realidade. Para que você possa saber onde você está e o que deve fazer.

Quem mais nos machuca é quem está mais próximo de nós. Os abusadores, na maioria das vezes, não estão lá fora, mas dentro da própria casa. Os piores são os que estão dentro do nosso relacionamento afetivo, seja familiar, seja amoroso. Piores, porque é difícil acreditar que sejam pessoas que se aproveitam justamente da nossa capacidade de amar, ou da nossa dependência, quando ainda não nos tornamos adultos.

O abusador pode estar sentado com você em sua sala de aula. Pode ser seu chefe, seu médico, seu terapeuta, seu professor, colega de trabalho, advogado, líder religioso. Pode ocupar qualquer posição, desde que, a partir dela, obtenha controle, poder e/ou sexo.

Tudo isso, é claro, de forma velada e disfarçada. Você confiaria em alguém com cara de mau? É claro que não. Por isso, essas pessoas jamais se apresentam com sua verdadeira face. Muito pelo contrário: elas se apresentam com a aparência que mais atração possa exercer sobre você. E você cai na armadilha.

A vida é curta demais para passá-la sofrendo num relacionamento tóxico. Todos nós precisamos ser livres e estar disponíveis para trabalhar por um mundo melhor. Ao reconquistar a tranquilidade, o amor e a produtividade, tudo se torna possível. E, a partir de um certo ponto, tudo depende de você. Um você fortalecido, capaz e corajoso, forte o suficiente para enfrentar a sensação terrível de ter se deparado com a maldade. Para chegar a esse lugar, é preciso tomar e manter algumas decisões. Mas antes, é fundamental saber como você chegou a esse lugar, e que formas esse caminho tomou, à revelia de tudo o que você possa ter sido, pensado, estudado e feito ao longo de toda a sua vida. Por isso, comecemos pelo princípio.

Júlia Bárány


A FUNÇÃO DA DOR

Na minha prática terapêutica, o que busco não é alívio da dor, embora no primeiro momento o alívio seja urgente, pois a pessoa está mergulhada no sofrimento e não consegue viver. As vítimas de psicopata passam por um sofrimento atroz porque em primeiro lugar esse sofrimento não faz sentido. Não há nada que a vítima tenha feito que justifique o abuso sofrido. Em todos os casos que atendi até hoje, o que aconteceu foi exatamente o contrário: a vítima se dedicou, amou, se doou, não só de si, mas de tudo que possuía. E mesmo assim, ela chega ao meu consultório se sentindo culpada, porque é isso que o abusador a fez acreditar. Essa é uma característica recorrente nessas vítimas.

A vítima foi manipulada, torturada psicologicamente, entre outras técnicas com dissonância cognitiva, uma técnica cruel e eficiente de convencer a pessoa de que ela não viu o que viu nem ouviu o que ouviu. A pessoa passa a não confiar mais no próprio discernimento. Quando se trata de relacionamento familiar ou íntimo, a vítima está vulnerável e incapaz de se defender, pois não tem como esperar ser atacada dentro do próprio lar por pessoa de sua intimidade, como pai, mãe, irmão, esposo ou esposa, filho ou um outro parente. Quando se trata de relacionamento profissional, de funcionário e chefe, ou de colega de trabalho, ainda há vínculos e poder envolvidos, que intimidam, restringem ou paralisam a vítima, a ponto de ela não poder reagir.

A teia de mentiras e meias-verdades, manipulações, campanha de difamação e de enlouquecimento, afastamento de todo o sistema de suporte, provocação de discórdia colocando as pessoas umas contra as outras dentro de uma mesma casa são técnicas que vão destruindo a pessoa a ponto de muitas vezes ela beirar o suicídio.

Então, após um primeiro momento de aliviar a dor para torná-la manejável, o que faço é ajudar a pessoa a atravessar o inferno.

Em primeiro lugar, essa dor precisa ser validada! É preciso dar um sentido para esta dor. Digo aos meus pacientes que eles só não sentiriam dor se fossem de pedra. Que é legítimo sentir essa dor, essa raiva. É mais do que legítimo querer vingança. No entanto, procuro mostrar que vingança só vai envenenar a própria pessoa. Procuro ajudar a pessoa a por para fora a raiva, a mágoa, a revolta, a dor.

A compreensão do abuso e do abusador é um segundo passo. Frases como: “Como a minha própria mãe foi capaz de fazer isso comigo?” começam a fazer sentido quando eu explico o que é um psicopata e como ele age, e para que ele age assim. Pois todos eles seguem um script…

Um terceiro passo é elaborar um esquema para cessar a fonte do sofrimento, aprendendo a lidar com a situação ou saindo fora dela.

Em seguida, levá-la a se sagrar vencedora não de algo externo, mas vencedora de si mesma, num processo de morte para o que não serve mais e renascimento para uma nova vida.

A dor é o coadjuvante no processo de metamorfose, como a lagarta que entra no casulo para sair dele um dia borboleta. A dor nos abre os olhos para dentro e para fora de nós. A dor nos faz resgatar a nossa força, a nossa essência, a nossa verdade.

“É a dor que regula a nossa consciência e impede que absorvamos de uma só vez um excesso de impressões do nosso meio ambiente”, o que traria prejuízo aos nossos órgãos dos sentidos. Para o Dr. Douglas Baker, autor de Anatomia Esotérica, a dor funciona como um órgão do sentido, o mais primitivo, anterior ao olfato, paladar, visão. A dor é responsável pela nossa sobrevivência.

Mais adiante, o autor diz: “Assim como o enjoo do mar intensifica o sentido da visão, a dor nos afina com uma gama mais ampla e sensível de impulsos.”

Ao abordar a dor emocional, mental, o autor a relaciona com o grau de consciência espiritual e a decorrente responsabilidade que a pessoa sente por si mesma e pelos outros.

“A dor é uma das serpentes que se entrelaçam ao redor do caduceu… a outra é a alegria. A dor e a alegria levadas ao clímax são o sofrimento e o êxtase. Quando as duas se harmonizam no êxtase doloroso, estão ligadas aos testes da iniciação.”

Pois é na transcendência do prazer e da dor que o objetivo é alcançado.

“Aprendemos com a dor dos nossos erros”. Essa dor não deve ser evitada. Ela nos ensina. Ela é bem-vinda quando reconhecemos essa sua função.

A dor das doenças é um agente cármico, portanto, libertador. A doença nos ensina a cuidar de nosso corpo, da nossa alma, e quando superada, nos fortalece. Mesmo nas dores crônicas, aprendemos. Há a dor cármica mais abrangente, como a dor da humanidade assumida por alguns para a redenção.

“Assim como a dor dilata as pupilas dos olhos, permitindo maior entrada de luz, a dor planetária, suportada pelos poucos que são capazes de compartilhá-la a qualquer momento, irá permitir um influxo maior da luz divina ou consciência.”

O autor pontua o laço de amor que se constrói entre dois seres quando um se compadece com a dor do outro. Esse é o laço que vou construindo com os meus partilhantes/sobreviventes. Sem esse laço, o que eu fizer não terá efeito algum.

A dor é o impulso mais forte do ser para a metamorfose.

Por fim, o autor aborda a dor da consciência. Esta só acomete aqueles que a possuem. Portanto, seres humanos, não psicopatas.

 

Depois desse processo, vejo como as pessoas se iluminam, como elas passam a ser mais amorosas, compreensivas, vibrantes com a vida, e um dia, quem sabe, consigam agradecer o horror que viveram.

Elas terão adquirido a consciência e com ela a liberdade por meio do conhecimento do bem e do mal. O fruto da árvore do paraíso terá cumprido sua tarefa.

Poderemos então colher o fruto da segunda árvore, a do conhecimento da vida, porque para colhê-lo, teremos que ter aprendido a amar. Amar inclusive os nossos inimigos, amar o abusador. Essa tarefa é para super-humanos. Um dia chegaremos lá.

 

Júlia Bárány


O QUE FAZ O NARCISISTA FELIZ?

O que mais faz o narcisista feliz é nunca ter que dizer adeus à sua fonte de suprimento narcisista… você ainda fornece oxigênio ao narcisista?

Uma mulher já está há cerca 20 anos depois do divórcio, com uma vida razoavelmente feliz, somente perturbada pelas reuniões de família, nas quais a dor do passado entra correndo e a empurra de volta àqueles tempos.

Ela relata:

Uma das enormes dificuldades é que, como meus filhos não viram o pai me maltratar, eles não conseguem entender PORQUE eu não quero estar com ele no mesmo ambiente. Até parece que eu é que sou a parte cruel na história!

Eles me dizem para ‘esquecer, virar a página!’. Compartilhei com eles algumas coisas tentando fazer com que entendessem, mas eles não querem ouvir nada negativo sobre o pai e acham que são problemas particulares entre nós. E, porque eu sou uma pessoa empática, AINDA quero que meus filhos tenham uma boa imagem do pai deles!!. Não vejo solução para este dilema a não ser ficar em casa e deixar de ir nessas reuniões da família. Mas isso também não me agrada.

Christine responde:

O que mais faz o narcisista feliz é nunca ter que dizer adeus à sua fonte de suprimento narcisista. O marido citado acima está já com sua terceira esposa, e ainda a primeira esposa gasta muita energia pensando nele, se incomodando e tentando evitá-lo. Isso deve lhe causar felicidade, especialmente por ele ter uma audiência que assiste à angústia da ex-mulher. Essa situação é muito frequente, especialmente quando há filhos envolvidos.

A perspectiva de encontrar-se novamente com o narcisista abusivo mesmo depois de muitos anos decorridos causa ansiedade, inevitavelmente, pois é evocada a dissonância cognitiva que o abusador utilizou abundantemente para torturar psicologicamente sua vítima. Dissonância cognitiva agora é: “Vou? Não vou?”. A mãe não quer decepcionar principalmente os filhos. Não quer ofender o anfitrião. Mas também não quer dar ao abusador a satisfação de ter ganho mais uma parada se ela não for.

Emaranhamento é o jogo final do abusador, e depois da fase do descarte, o narcisista tem outras técnicas para manter você enroscada nele. Embora você não tenha percebido, uma vez que você permitiu que ele entrasse na sua vida, você assinou sem saber um contrato psicológico que amarrou você a ele pelo resto da vida. Assim, sempre que o narcisista precisa de suprimento vai usar a “manobra aspirador” para sugar você de volta na vida dele para ele se divertir. Conseguir sua atenção mantem o jogo funcionando, e não importa se a atenção é positiva ou negativa. As duas servem muito bem ao narcisista patológico.

As vítimas cometem o erro de pensar que quando o narcisista faz isso ele quer é você de volta na vida dele. Mas o que ele quer mesmo é sugar mais oxigênio de você, e descobrir o que você anda fazendo, pois informação dá poder ao narcisista. Uma vez satisfeita a curiosidade dele, ele a deixa em paz por um tempo.

A sua reação à “manobra aspirador” é uma recompensa ao narcisista. Por exemplo, se você tratá-lo bem, ele vai querer essa atenção de novo. Se você o destratar, ele vai querer se vingar e obter a sensação prazerosa de humilhar você de novo.

Se você, a vítima, continua sozinha, ele vai se aproveitar disso, convencido de que você ainda o ama. Então ele vai desfilar com sua nova conquista para tirar mais uma lasquinha de você. Ele quer fazer você acreditar novamente que você foi a errada, e se não o fosse, ainda poderia estar feliz com ele. Os outros não vão perceber a jogada de gato e rato que ele faz, e só verão como ele está sendo amistoso e gentil com você.

Mesmo que você não demonstre seus sentimentos nessa situação toda, os outros vão achar que é você a problemática e a culpada, uma pessoa difícil, no mínimo. Eles até vão atribuir a você ciúmes por ver o seu ex feliz com a outra. Jamais perceberão o jogo sutil por trás dessa história. E enquanto isso, o abusador se mostra surpreso ou constrangido com o seu comportamento. Essa é outra maneira de manipular os outros para que o defendam, a ele não a você! E os outros se afastam de você ou até deixam transparecer que você não é benvinda às reuniões familiares.

Você indo ou não à reunião, o seu ex terá prazer sabendo como você se sente mal com a rejeição dos outros… isso lhe dá o oxigênio que ele tanto anseia. Ele sai cheirando a perfume de rosas enquanto a vítima é rejeitada pela “manobra do aspirador”.

O mundo precisa saber dessas manobras e parar de interpretar os fatos dessa forma totalmente equivocada. A verdade precisa ser vista!

(por Júlia Bárány, baseado em texto de Christine Louis de Canonville, original em: http://narcissisticbehavior.net/one-thing-that-makes-a-narcissist-happy/)


CURANDO A FERIDA DO ABANDONO 2

A ferida do abandono é pouco considerada na área da saúde mental. Assim como o trauma complexo não tem classificação no DSM e, portanto não pode ser diagnosticado, a ferida do abandono não está lá como causa de algumas doenças mentais que existem.

O abuso narcisista causa, entre outros males, a ferida do abandono. Abuso não acontece apenas em decorrência de violência física, verbal ou sexual. Muitas vítimas de abuso nem sofreram com alguém gritando com elas. Simplesmente foram negligenciadas e ignoradas.

O abandono emocional acontece quando alguém importante para você o descarta, ignora, desvaloriza ou nem reconhece. Este tipo de lesão invisível causa muito estrago no receptor. Nesse caso a palavra “receptor” é irônica, pois o receptor não recebe nada, e este é o fulcro do problema. Esse nada perfura fundo o coração do alvo. Ninguém vê isso, esse abuso fica escondido, e a vítima se sente vazia e invisível.

As vítimas de abuso declarado muitas vezes desejam exatamente isso: ficar invisíveis e se esconder. Porém, é um equívoco acreditar que ser invisível para um ente querido ou mesmo para alguém que não nos é importante seja algo bom. Temos a necessidade básica de nos sentirmos importantes para os outros.

Sentir-se invisível para quem se ama é uma ferida existencial. Além de sentir que você não importa para o outro, você se questiona se tem direito de existir. Pesquisas mostram que uma das maneiras básicas de lesar uma pessoa é retirá-la do contato humano, especialmente da comunicação com outro ser humano.

Uma das formas de abuso narcisista envolve o controle da comunicação. Isso acontece por meio de conversas enlouquecedoras, isolamento, salada de palavras, evitar tocar num assunto importante para o outro, esquivar-se de resolver conflitos, ignorar, não ouvir, e assim por diante.

Uma das armas que os narcisistas e outros abusadores emocionais usam é o silêncio, que causa profundo sentimento de abandono no receptor. A repetição constante do tratamento de silêncio acaba levando algumas vítimas às drogas, anti-depressivos/ansiolíticos, ou mesmo tentativas de suicídio, para fugir do terrível vazio.

A ferida do abandono pode ser causada também por progenitores negligentes ou ausentes. Não é fácil você explicar para si mesmo o porque desse abandono. Você pode achar que não merecia mesmo, que não vale nada, fica com raiva, ou tenta dar a volta por cima, ignora o progenitor ausente, mas a ferida ainda está lá, e as consequências existem para o resto da vida. O abandono leva a diversos mecanismos de defesa.

Para se curar de qualquer tipo de perda, a solução principal é vivenciar o luto. Se você foi abandonado, temporariamente ou permanentemente, então você está ferido.

Você pode tentar o seguinte:

  1. Escreva uma carta para quem o abandonou, conte o que sente, mas não entregue essa carta para a pessoa. Você a escreve para processar seus sentimentos.
  2. Escreva uma carta para os seus sentimentos de anseio, de saudade, de tristeza, de desespero. Verifique onde no seu corpo estão esses sentimentos. Você até pode fazer um desenho. Fique um tempo sentindo seus sentimentos.
  3. Deixe-se sentir. Entre nos seus sentimentos e os sinta profundamente, passe pela experiência do luto. Isso acelera o processo de cura.

Depois, faça uma imagem de você mesmo curado. Imagine a parte de você que se compadece de você mesmo. Ela é o seu salvador, pois dentro de você há amor, tempo, empatia, esperança e incentivo.

Identifique seus mecanismos de defesa: com o que você está tentando compensar o vazio do abandono? Com comida? Sexo? Vício em trabalho? Diversão desenfreada? Remédios? Depressão? Ansiedade? Doenças?

No final das contas, você descobre que tem uma vida para viver, apesar de qualquer ferida que sofreu. Você descobre que poderá encontrar esperança, amor e uma boa vida com propósito. Você precisa validar seus sentimentos, reconhecer a perda, e recomeçar.

por Júlia Bárány

Tradução livre do texto de Shari Stines, Psy.D. Original em https://pro.psychcentral.com/recovery-expert/2017/08/healing-the-abandonment-wound/?utm_source=Psych+Central+Professional&utm_campaign=e0ce6fac70-PRO_B_EMAIL_CAMPAIGN&utm_medium=email&utm_term=0_7ef5d0b4f0-e0ce6fac70-30460681

 


DEPRESSÃO

As perguntas o que estou fazendo aqui, quem eu sou, para onde vou, teimam em nos cutucar cada vez mais nos dias de hoje. Enquanto preenchemos nossos dias e nossas horas com mil ocupações em ritmo frenético, parece que essas perguntas se encolhem. Mas basta uma brecha, lá vem elas novamente bater à porta da nossa consciência.

A busca das respostas leva às síndromes modernas, todas relacionadas à nossa alma.

Ansiedade é a alma não se apossar totalmente do sistema metabólico e com isso focalizar excessivamente o futuro. Companheiro inseparável é o medo. Que será que vai acontecer? Será que vou dar conta? Será que serei aceito? Será? Será? Será?

O sofrimento acontece por antecipação. A pessoa se pre-ocupa, ocupa-se antes de se ocupar com o fato de fato, criando com isso um problema inchado.

Localizada no baixo ventre, a digestão fica comprometida, temos sudorese, palpitação, insônia, respiração ofegante, falta de ar.

Ansiedade tem a ver com a troca que fazemos com o ambiente por meio do ar. Este entra pouco e sai pouco, por isso não é à toa que nossas avós diziam: respira fundo e vai em frente.

Ansiedade intensificada leva à angústia e mais ainda, à agonia, batendo às portas do final, da morte, ao fim da respiração.

Uma palavra nas origens de ansiedade é ankh, a cruz ansata egípcia, símbolo do sopro da vida.

Quando a ansiedade não se resolve, chama a agressividade, que vem do mesmo lugar, do metabolismo, acordando em nós os impulsos instintivos de agredir. Não conseguindo aplacar o nosso medo, projetamo-lo para fora, para os outros.

Pânico fica preso no presente. Sem perspectiva do antes e do depois, o medo é levado a tal grau que paralisa. Localizado no sistema neurossensorial, com sede na cabeça, gera a incapacidade de agir. Inspiramos demais e expiramos de menos.

Depressão é a alma não se apossar completamente do sistema rítmico, da respiração e do coração. Localizada no peito, a região mediana do corpo, temos a sensação de um elefante sentado nele, e nos prendendo ao passado.

Culpa, remorso, autoestima baixa, incapacidade de sair da prisão e agir, mexe com os nossos valores, valores de nós mesmos. Perdemos assim a esperança. Depressão é tristeza sem fim. É inspirar de menos e expirar demais.

Inapetência ou gula desmesurada, na tentativa de preencher o vazio com comida, mexe com a energia e o peso. Quando a depressão se intensifica, leva à autoagressão, ao autoaniquilamento.

Depressão pode vir após estresse prolongado, uma doença difícil, uma situação de vida que parece não ter saída, um abuso, breve ou continuado, um trauma não resolvido.

Depressão mata, por isso é extremamente importante que as pessoas ao redor do deprimido se mobilizem para ajudar a tirá-lo desse poço. Depressão mata não porque seja ela própria uma doença fatal, mas porque ela leva ao esgotamento total da esperança, ao desespero. Daí o corpo adoece com câncer e outros males.

Vemos depressão em crianças que resulta do estilo de vida sedentário e sem motivações das crianças metidas em apartamentos, sem contato com a natureza, sem espaço para correr, brincar, subir em árvores, mexer na terra, explorar o mundo. Criança metida no mundo virtual bidimensional vai definhando. Sua capacidade de raciocínio é limitada porque o raciocínio nasce da exploração do espaço e da manipulação dos objetos nesse espaço, na observação de como as coisas funcionam, para depois ir adentrando a abstração.

A depressão também resulta da falta de contato com outras pessoas, contato verdadeiro, vivo, presencial. Falar com alguém por meios eletrônicos é uma ilusão de contato, não é contato real. Somos criaturas essencialmente sociais, e quando ficamos isolados, perdemos a noção da teia da qual fazemos parte, queiramos ou não, saibamos ou não.

Depressão se instala quando perdemos de vista os nossos objetivos, os nossos ideais. Quando perdemos de vista a dimensão maior da vida, a espiritualidade. Não há pelo que lutar, pelo que se esforçar. Desistimos e deprimimos.

 

As três, doenças da alma da nossa época, se forem tratadas só com remédios, não se resolvem. Porque a alma clama por uma mudança de vida, de perspectiva, clama por encontrarmos as respostas às perguntas que mesmo que não as tenhamos conscientes, nos cutucam o tempo todo.

É preciso de um processo terapêutico para que encontremos o rumo e o significado de nossa vida.

Se tomarmos muito remédio, que é necessário emergencialmente, abafamos, anestesiamos a capacidade de processar de forma consciente os medos e as perguntas, atividade mesma de cura. Os remédios nos dão a ilusória sensação de que “está tudo bem” quando sob a superfície não está tudo bem.

Todas as doenças começam na alma, então é lá que a cura precisa alcançar.

Recomeçar a vida, renovando por dentro, para que esta renovação se manifeste fora, e reconquistemos um lugar bom para todos vivermos.

Júlia Bárány