Arquivo mensal: março de 2017


AS TÉCNICAS DO ABUSADOR

O abusador mantém seu parceiro ou seus filhos entre ciclos de dor e de resgate amoroso. Com esta tática o narcisista ou psicopata provoca uma grande quantidade de estresse e ansiedade (são liberados hormônios de estresse como cortisol e adrenalina). Logo quando volta a fase da lua de mel, alivia a tensão com sua nova doçura fingida, e a vítima, depois de ser ignorada e maltratada, experimenta uma onda de euforia devido à liberação de dopamina e ocitocina (hormônios do bem-estar). Assim é que se produz o que se conhece como “vinculação por trauma” ou “Síndrome de Estocolomo doméstica”, a vítima crê que o abusador pode libertá-la dos sintomas dolorosos que padece sem se dar conta de que é o abusador quem os provoca. Esses ciclos repetidos de dor e de resgate são psicologicamente devastadores, tanto é que é o mesmo método utilizado em alguns interrogatórios policiais (este tipo de técnicas são ilegais) para obter a confissão de um detento que acaba aceitando ser culpado embora seja inocente por causa tortura mental a que é submetido. Os sociopatas e narcisistas são absolutamente conscientes do que são e do que fazem, utilizando técnicas provadas de controle e subjugação psicológicos.

Dr. Inaki Piñuel (traduzido do espanhol por Júlia Bárány)


PORQUE PSICOTERAPIA NÃO FUNCIONA COM PORTADORES DE DISTÚRBIOS DE PERSONALIDADE

  

Donna Andersen entrevista Dr. George Simon, psicoterapeuta, autor, transcrição livre por Júlia Bárány (https://www.youtube.com/watch?v=_blTeYKeLRU&feature=youtu.be)

 

A psicoterapia convencional não foi criada para tratar distúrbios de personalidade e sim para tratar indivíduos que estivessem lutando com medos, insegurança, angústias, vergonha, culpa, sobre o que não tinham consciência. Essas ocorrências causam ansiedade e sintomas físicos de ansiedade, e a terapia tinha o objetivo de ajudá-los a descobrir as causas e lidar com elas. Essa é a definição de neurose. Distúrbio de personalidade é algo muito diferente de neurose. É diferente de neurose em múltiplas dimensões, e quanto mais sérios os distúrbios de personalidade tanto mais sérias as diferenças dos problemas que as pessoas neuróticas têm e com os quais precisam de ajuda.

Alguns padrões de pensamento que os portadores de distúrbios de personalidade manifestam são: egocentrismo e megalomania – ele/ela é tão especial e importante que pode fazer qualquer coisa. Junto com isso, vem a convicção de que ele/ela tem o direito de fazer o que quer fazer num relacionamento sem arcar com as consequências. O modo como pensamos afeta o nosso comportamento. Portanto, o comportamento dessas pessoas advém dessa premissa, e por isso a total desconsideração com o outro.

Outro exemplo é a possessividade. Considerar os outros ou aquilo que ele/ela quer como suas exclusivas propriedades faz com que essa pessoa aja como bem entender em relação a essas “propriedades”. Esse modo de pensar é muito comum especialmente numa relação de abuso. O outro, nesse tipo de relacionamento, é um objeto utilitário e não uma pessoa a ser respeitada.

Os terapeutas precisam conhecer esses mecanismos para saberem como ajudar a vítima. É um problema extremamente difícil, e as abordagens tradicionais de fazer o paciente “olhar para dentro”, de convencê-lo de que o problema é dele, não ajudam.

Entender que a maneira como percebemos algo dirige a maneira como lidamos com este algo é fundamental para que a terapia realmente tenha efeito.

Se o terapeuta não sabe desse quadro, não terá subsídios para ajudar seu paciente, e pior, poderá atrapalhar sua recuperação com suposições erradas, retraumatizando a vítima do relacionamento problemático com uma pessoa com distúrbio de personalidade.


o choque no tribunal

 

A ADVOGADA MEGAN LYONS DESCREVE O MAIOR CHOQUE QUE ALGUÉM SOFRE QUANDO ENFRENTA UM PSICOPATA NO TRIBUNAL

 

Indivíduos portadores de distúrbios de personalidade mentem, culpam e exageram na sua vida particular e profissional, e fazem o mesmo no tribunal. Antecipando o que o oponente irá fazer, você não será cegado; você estará preparado. Como vencer suas táticas e provar a sua verdade?

O maior choque que a pessoa vítima de um indivíduo portador de distúrbio de personalidade sofre é de repente se defrontar com a depravação do seu ex parceiro amoroso ou companheiro de vida. Não há o mínimo de decência humana. O nível de mentiras patológicas está totalmente fora de qualquer padrão de conduta humana que a vítima conhece (e a maioria de nós também). As atitudes de seu ex parceiro amoroso não combinam em nada com o que a vítima pensa que viveu com ele às vezes durante muito tempo. Embora sob juramento, o indivíduo não apresenta nenhum constrangimento em mentir, e esse é o fato principal com que a vítima precisa se preocupar no processo.

O indivíduo com distúrbio de personalidade usa persuasão emocional de forma muito eficiente. Como ele é um ator bem autotreinado e conhece as vulnerabilidades emocionais de seu alvo, que costuma ser uma pessoa muito mais empática, molesta-o como ave de rapina. O ambiente num tribunal já é constrangedor. Há um pesado clima que intimida a vítima, sem contar que ela precisa enfrentar o agressor que se apresenta calmo, senhor da situação, enquanto ela está transtornada, em consequência de um longo processo de abuso psicológico. (A vítima costuma apresentar Síndrome de Distúrbio Pós-Traumático).

Os indivíduos portadores de distúrbios de personalidade como os narcisistas, os psicopatas, os borderline, chegam a ficar bem satisfeitos com tal ambiente, já que sabem usá-lo a seu favor. Eles não se intimidam com tal ambiente, muito pelo contrário, se deliciam em usar a semântica do tribunal para armar suas manipulações, montar uma encenação, induzindo habilmente reações emocionais em suas vítimas, que os favoreçam.

Um bom juiz, se não for ele também portador de distúrbio de personalidade, seria capaz de perceber o que está por trás da encenação, até por ter prática com este tipo de pessoas. Mas nos casos em que, por exemplo, estamos diante de um juiz novo, ou um juiz que não conhece as táticas desse tipo de personalidade, e quando as emoções do juiz também estão sendo usadas para persuadi-lo dos objetivos do agressor, a verdadeira vítima tem quase nula possibilidade de conseguir se fazer entender, muito menos de ser defendida.

Existem várias estratégias legais com as quais podemos nos armar e predizer conduta muito imprevisível.

Se precisar de um advogado para se defender de um psicopata ou outro portador de distúrbio de personalidade, verifique primeiro se ele entende pelo que você passou e quem é a outra parte. Caso contrário, você perderá o processo com certeza.

 

(traduzido por Júlia Bárány de: https://www.youtube.com/watch?v=eaqU-ewn4gY&feature=youtu.be, canal de Donna Andersen)


GRANDIOSIDADE AUTO PROCLAMADA – A TÁTICA DOS ABUSADORES

“Olha que grande sujeito eu sou.” Uma tática que os abusadores empregam – bem debaixo do nariz de todos

 

(Nota do Editor: esta postagem foi contribuição de um leitor de Lovefraud cujo pseudônimo é D2)

 

Tradução por Júlia Bárány (original em: http://www.lovefraud.com/2017/03/03/see-what-a-great-guy-i-am/)

 

O café se enchia rapidamente com pessoas que agarravam seus cafezinhos antes de se dirigir para o escritório. Eu estava sentada com o meu livro e o meu capuchino, passando os olhos pelo ambiente de vez em quando para aliviar meus olhos e depois refocá-los na página. Quando ergui os olhos de novo, percebi um dos barristas conversando atentamente com um homem de meia idade encostado numa parede de cortiça. Eu não conseguia ouvi-los por cima do burburinho dos outros fregueses, mas eles pareciam estar discutindo algo pregado na cortiça.

Nada de interessante acontecendo aqui… exceto algo nesse homem chamou minha atenção, algo de sua linguagem corporal. Ele estava um tanto “aceso” demais, tentando demais ser envolvente e agradável. Parecia uma daquelas cenas de cinema em que o marido encurrala sua esposa na sala quando ela volta cedo para casa e mantém uma conversa em voz alta e exageradamente jovial com ela enquanto a garota com quem ele a estava traindo foge pela janela do quarto por trás dos dois.

E havia mais alguma coisa sobre ele, alguma vibração esquisita emanando dele, que me dava arrepios. Mas a conversa acabou, ele entrou na fila do café e eu voltei ao meu livro.

“Pare com isso! Não tente seus truques comigo!” ouvi segundos depois. Erguendo os olhos, vi uma jovem de traje profissional se virando na fila e olhando chocada para a pessoa atrás dela. Era ele.

“Não tente me aborrecer com os seus truques!” repetiu ele na cara dela, sem gritar, mas alto o bastante para que muitos na sala o ouvissem claramente. Os dois haviam se virado de forma que eu os via de perfil de onde eu estava sentada, e vi a expressão dele. Ele estava se divertindo.

A mulher saiu da fila e achou o mesmo barrista com quem o homem havia conversado antes, levando o barrista até uma mesa a poucos metros da minha. Agitada e aos prantos, ela descreveu o ataque verbal e apontou para o agressor que estava na fila, que parecia nem perceber a cena atrás dele.

“Mas eu acabei de conversar com ele há alguns minutos”, disse o barrista, com um tom um tanto condescendente. “Ele me pareceu um sujeito bom. Vou ficar de olho, se você quiser.”

“Estou arrasada, e nem cheguei ao escritório ainda!” a mulher balbuciou entre soluços, depois se aprumou e saiu do edifício.

Este incidente bizarro pode parecer nada mais que uma versão adulta do “Vamos encrencar VOCÊ com o professor”, mas a falha de reconhecer esta tática em outros contextos é potencialmente letal.

Eis outro exemplo, esse um tanto mais pessoal:

Durante meus anos de universidade, na época em que os telefones celulares eram do tamanho de tijolos e poucos os possuíam, consegui um emprego num restaurante 24 horas. Fui entrevistada à noite depois de sair de outro serviço temporário, e fui contratada na hora. Quando finalmente os formulários e as orientações foram completados e eu podia ir embora, já eram 3 horas da manhã.

Um problema: eu não tinha carro, não tinha mais ônibus, não tinha carona e como eu estava sem um tostão, não podia pagar um táxi. Eu precisava chegar em casa, então decidi que não tinha outra opção a não ser caminhar alguns quilômetros para chegar lá.

Depois de passar por um shopping em frente ao restaurante, continuei por outra rua principal que levava para casa. Caminhando me dei conta de um jovem desalinhado de bicicleta que parecia me seguir. Continuei, apertando o passo. Para o meu alívio, vislumbrei um guarda à frente, provavelmente voltando de seu turno. Mas fiquei horrorizada ao ver o jovem de bicicleta chegar até o guarda e começar uma animada conversa com ele, lançando-me um olhar zombeteiro quando me aproximei. Era como no café – mas ele provavelmente tinha outra intenção além de agressões verbais.

Dei uma volta até a rua principal, planejando voltar ao guarda, mas o homem de bicicleta estava atrás de mim, bloqueando minha passagem, e o guarda desapareceu numa travessa.

O carro de polícia apareceu como por um milagre. Meu perseguidor foi embora imediatamente. O policial parou, eu lhe contei que estava sendo perseguida e ele me levou para casa. Desastre evitado.

 

A Camuflagem do Agressor Social

 

Os dois incidentes exemplificam uma técnica abusiva de “Não é que sou um sujeito maravilhoso”, cujo propósito é criar uma camuflagem social protetora para o agressor.

É muito simples: o agressor visa a vítima e, antes do golpe, todos que circundam a futura vítima que poderiam intervir ou exercer algum poder social contra o agressor são submetidos a um show de encanto e graça. (Bajulando e manipulando indivíduos para que se tornem agressores por tabela é uma assustadora variante comum nesse esquema.) Uma vez que a audiência foi hipnotizada por este subterfúgio social para ver o agressor a uma luz favorável e depois racionalizar – ou desacreditar o relato – qualquer conduta abusadora que possa acontecer em seguida, o agressor pode então atacar com relativa impunidade porque, afinal, “Eu sou um grande sujeito!” (Ou uma!)

Como exemplo de magnitude maior, imagine um predador criando uma imagem socialmente bem fundamentada na arena social ampliada onde ele ou ela caça, e você poderia estar inventando alguém como John Wayne Gacy em seu traje de palhaço ou Ted Bundy (famoso seria killer americano) como voluntário num atendimento telefônico de prevenção ao suicídio.

Eis outro cenário do meu passado, cujas implicações eu gostaria que você ponderasse:

Chegou a época, no seminário do último ano de psicologia, de nos apresentarmos uns aos outros, e os estudantes sentados nervosos aguardavam sua vez de falar. Um dos últimos a falar, um sujeito sorridente de cabelo escuro com uma aura de eletricidade, se colocou na frente da audiência. Decididamente ele não estava nervoso.

Contou que, sozinho, estava projetando e construindo sua própria casa e muitas outras, e ao mesmo tempo cuidando de múltiplos negócios e administrando muitos empreiteiros, e ele tocava seis instrumentos musicais e viajava pelo mundo enquanto trabalhava para obter seu diploma de psicólogo porque ele queria ajudar as pessoas. (Ele engasgou um pouco nesse momento.)

Era um implacável fluxo de “eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, EU.”

Olhei em volta enquanto ele desfiava seus pequenos feitos e percebi que muitas mulheres e até alguns homens – pessoas de 20 a 50 anos de idade – estavam todos encantados. Deslizei meu olhar para o professor que estava quieto ouvindo, com um leve sorriso no rosto e uma expressão nos olhos que eu não consegui distinguir de onde eu estava.

Em seguida, seu finale: ele cantou – aplaudido entusiasticamente.

Eu não aplaudi. Se eles admitissem esse floco no programa de psicólogos, pensei, vou renunciar ao meu diploma.

Agora, pense comigo. Suas exageradas afirmações e a apresentação geral exibiam grandiosidade e foco em si mesmo no mínimo, e nenhuma dessas qualidades é ideal para um terapeuta. A parte assustadora dessa história é que muitos membros da audiência que assistiram a essa apresentação – pessoas que aspiravam a carreiras de aconselhadores e psicólogos – de fato compraram isso, a julgar pelos elogiosos comentários que ouvi enquanto saía da sala no final da aula.

Com esse efeito em muitos membros da audiência em mente, imagine o que acontece quando alguém assim mantém o ato circense em cartaz a ponto de sobreviver a um processo de experiência clínica supervisionada a caminho de uma licença de psicólogo clínico. (Isso acontece!) Um cliente vulnerável, hipnotizado por uma persona extensivamente fabricada que foi validado por um diploma, no mínimo seria manipulado para preencher o desejo do terapeuta com distúrbio de dominação e adulação e pior, estar totalmente exposto para formas mais graves de violação.

 

O Incidente do Café – um Caso de Estupro Psicológico

 

Não digo com tudo isso que alguém com uma imagem social atraente ou uma auto-apresentação confiante esteja necessariamente desviando a atenção de atividades nefastas. Digo apenas que a imagem social ou os relatos sobre si mesmo de um indivíduo não lhe diz quem, ou o que, ele ou ela realmente é. É o estilo e o contexto do envolvimento de alguém com você – é o padrão – que fornece dicas de suas intenções. Nos casos envolvendo a mulher no café e eu, aconteceu o charme prévio antes do incidente, ou pelo menos a tentativa, a fim de isolar um alvo e criar a ilusão de negação.

E quanto à agressão verbal no café: foi um caso de estupro psicológico, em plena luz do dia, às claras, embora o perpetrador não tenha encostado a mão nela. Mas então, ele nem precisou.