Carta Aberta aos Advogados de Sobreviventes de Psicopatas 2


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CARTA ABERTA A ADVOGADOS QUE TÊM CLIENTES ENVOLVIDOS COM PSICOPATAS

 

Prezado Sr. e Sra. Escudeiro

 

Quando um cliente lhe diz que seu oponente é um psicopata, por favor, saiba das ramificações do seu caso legal.

Em primeiro lugar, não desconsidere a afirmação só porque o oponente não matou ninguém. É comum acreditar que todos os psicopatas sejam enlouquecidos assassinos em série. Isso não é verdade – apenas uma pequena porcentagem dos psicopatas comete assassinato. Mas todos os psicopatas são predadores sociais, e vivem de explorar os outros.

Frequentemente é exploração financeira – muitos psicopatas são vigaristas – mas nem sempre. Psicopatas também alvejam pessoas que podem lhes fornecer um lugar para morar, conexões profissionais, sexo, trabalho doméstico ou outros serviços de apoio, filhos, ou uma imagem de respeitabilidade na comunidade enquanto eles vivem vidas duplas. O ponto é que os psicopatas usam intencionalmente a manipulação e o engodo para enganchar seu alvo. Eles continuam a manipulação e o engodo para manter a exploração funcionando, para sangrar o alvo até que não sobre mais nada. Nesse ponto, alguns psicopatas abandonam o alvo, vão embora sem ao menos olhar para trás.

Às vezes, porém, o alvo se torna esperto em relação ao psicopata e quer terminar o envolvimento. Nesse ponto, alguns psicopatas se enfurecem com a possibilidade de perder o controle, e se empenham em esmagar o alvo. Eles não estão interessados em comprometimento ou distribuição igualitária. Eles não querem dar ao alvo o que o alvo tem direito. Eles querem triturar o alvo em pó.

 

O QUE VOCÊ PRECISA ENTENDER SOBRE OS PSICOPATAS

  1. O principal objetivo do psicopata é poder e controle. Tudo que eles querem é ganhar.
  2. Os psicopatas adoram o drama da corte porque isso lhes dá uma oportunidade de ganhar. Eles não consideram a possibilidade de perder. Se eles perdem, eles o consideram um acidente na estrada, e tentam encontrar um jeito de atacar o alvo de novo. Forçar o alvo a incorrer em crescentes despesas legais é considerado um ganho.
  3. Psicopatas mentem. Eles mentem convincentemente. Eles não se incomodam nem um pouco em mentir nos documentos processuais ou no banco da testemunha.
  4. Os psicopatas manipulam outras pessoas para mentir por eles. Essas testemunhas podem não saber que estão mentindo – elas podem simplesmente acreditar em tudo que o psicopata lhes contou, porque os psicopatas são muito convincentes.
  5. Os psicopatas não sentem obrigação alguma em cumprir as ordens da corte ou a lei. Eles só cumprem ordens da corte ou a lei se percebem vantagem nisso. Mas eles são peritos em inventar jeitos de usar a lei para executar o seu objetivo, que é esmagar o seu (advogado) cliente.

 

COMO AS PESSOAS SE TORNAM ALVOS

A maioria de nós acredita que as pessoas são basicamente boas em seu íntimo e todos só querem ser amados. Porque não sabemos que existem exceções a essas crenças – ou seja, psicopatas – temos enormes pontos cegos que esses predadores podem explorar.

Nenhuma pessoa normal se envolve intencionalmente com um psicopata mentiroso e manipulativo. Então quando o seu cliente lhe conta histórias ultrajantes da conduta do psicopata, e também diz que ele nunca sabia dessa conduta, ou que aceitava as explicações do psicopata, seu cliente muito provavelmente está dizendo a verdade.

Como é que esses emaranhados acontecem? Os psicopatas estão sempre buscando pessoas que eles podem usar. Quando encontram alguém por meio de qualquer interação social, rapidamente avaliam se essa pessoa tem algo que eles querem. Se a resposta é sim, eles analisam a pessoa quanto a suas vulnerabilidades. Em seguida eles calculam como explorar as vulnerabilidades da pessoa para conseguir o objetivo deles.

Psicopatas praticam sedução calculada. Se você estiver cuidando de um caso de divórcio, a sedução foi romântica. Se for algum outro tipo de caso, a sedução pode ter envolvido crenças compartilhadas, aspirações ou objetivos. De qualquer forma, no início do envolvimento o alvo é sujeitado a uma maravilhosa lua de mel de admiração e promessas.

Uma vez capturado o alvo, o psicopata começa a exploração, enquanto simultaneamente escalona manipulação para manter o alvo sob controle. Isso pode incluir:

  1. Isolar o alvo de seu sistema de suporte
  2. Abuso emocional, psicológico, verbal, físico, sexual ou financeiro
  3. Gaslighting – fazer o alvo duvidar suas próprias percepções

 

O QUE VOCÊ PRECISA ENTENDER SOBRE O ALVO

  1. Envolvimento com um psicopata é como viver num buraco negro de caos. Seu cliente, o alvo, provavelmente teve todos os aspectos de sua vida rompidos:

– carreira interrompida

– finanças arruinadas

– negligência do lar e da propriedade

– relacionamentos abalados

Quando a ação legal começou, seu cliente já pode ter estado em queda livre por um longo tempo. Ele ou ela pode se sentir esmagado pela magnitude das questões que precisam ser abordadas.

  1. O envolvimento com um psicopata pode causar Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT). Houve uma época em que o TEPT era diagnosticado somente em relação a um único evento traumático que envolvia risco de dano grave ou morte, junto com medo intenso, horror ou desamparo. Uma nova definição identifica um tipo de TEPT que resulta de traumas acumulados e dano prolongado.
  2. TEPT é um dano psiquiátrico (não uma doença mental). TEPT causa mudanças bioquímicas no cérebro e afeta determinadas regiões da anatomia cerebral. Sintomas comuns são pensamentos intrusivos, pesadelos, revivências, dificuldade de se concentrar e exaustão.
  3. O litígio contra o psicopata faz seu cliente re-experienciar o trauma subjacente e engatilha os sintomas do TEPT. Dr. Karin Huffer, no seu livro Unlocking Justice, explica o que acontece:

“Reviver mentalmente o trauma durante procedimentos legais ativa simultaneamente partes do cérebro que apoiam intensas emoções enquanto diminui as funções do sistema nervoso central que controla ação motora, regula excitação fisiológica, e impede a habilidade de comunicação verbal. A memória falha e emoções intrusivas sabotam a concentração na tarefa sendo executada. Os litigantes sentem-se incapazes de reação verbal espontânea e interação necessária em trocas típicas num tribunal. Resulta que o litigante com TEPT pode ser levado a evitar tópicos. Ele literalmente não os ouve. Ele desconecta quando precisa se envolver. E, às vezes, ele claramente está inoperante e incapaz de comunicar seus sintomas e suas necessidades de maneira formal aceita nos tribunais.

  1. Os alvos dos psicopatas foram enganados, traídos e talvez sujeitos a violência. Eles chegam à corte esperando justiça, o que os psicopatas ativamente frustram. Quando é negada a justiça, e os alvos então experimentam uma profunda e prolongada injustiça, seu TEPT assume outra dimensão, que Huffer identifica como “Síndrome de Abuso Legal”.

 

A EXPERIÊNCIA DO SEU CLIENTE

O objetivo desta carta, Sr. e Sra. Escudeiro, é ajudar a entender pelo que seu cliente está passando. Meu objetivo é explicar porque ele ou ela possam ter dificuldades com o processo litigioso, e dificuldades de avançar na vida. O psicopata usou intencionalmente o seu cliente – talvez durante anos – e pode estar intencionalmente tentando destruí-lo agora.

Seu cliente não é irracional, preguiçoso ou obstinado. Seu cliente está tendo uma reação normal a uma profunda traição.

Sinceramente,

Donna Andersen

Autora, Lovefraud.com, e uma ex litigante contra um psicopata

(traduzido e adaptado por Júlia Bárány in http://www.lovefraud.com/2013/04/22/open-letter-lawyers-clients-involved-sociopaths/)


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