Micaela Hon


É POSSÍVEL AMAR DE NOVO DEPOIS DE UM RELACIONAMENTO ABUSIVO? 2

Por Júlia Bárány

 

Meus clientes me perguntam: É possível amar de novo depois deste relacionamento abusivo que me fez sofrer tanto e ainda faz?

Respondo com um grande SIM!!!

Mas há requisitos para que isso aconteça, para que você não caia de novo na armadilha de um predador.

Porque o predador que se aproximou de você sentiu o cheiro de suas vulnerabilidades, estudou-as detalhadamente para dar o bote dele sem o risco de falhar. Você pode ter passado recentemente por uma perda grande, por uma crise difícil, uma doença, um trauma ou sofria de solidão e estava fragilizada. Todo ser humano fica fragilizado por certos acontecimentos em sua vida. Fica fragilizado também por algum trauma do passado ou por alguma experiência na infância que ditou um comportamento de vulnerabilidade, como querer agradar os outros a qualquer custo, ser o menino ou a menina boazinha que não se defende, tirar as melhores notas na escola a custo de esforço enorme só para provar o seu valor. Todos nós temos nossos pontos fracos, isso é característica de seres humanos que somos. O que não é humano é se aproveitar desses pontos fracos para seduzir, explorar, manipular e destruir alguém. E é exatamente isso que os predadores fazem.

Um relacionamento abusivo desse porte causou um terrível dano na alma. É uma traição profunda e destruidora de valores, de confiança, de alegria, de esperança. Você foi sugado/a de todas as suas forças, sejam emocionais, psicológicas, físicas, financeiras, relacionais. Você foi traído/a na sua dedicação amorosa a uma pessoa que não merecia nem um pingo do seu amor, e se aproveitou do começo ao fim de você.

A dor é tamanha que não há espaço para outro sentimento algum. As situações absurdas e contraditórias, entremeadas de tortura psicológica, causaram danos na estrutura emocional da vítima. A recuperação parece impossível. É como um veneno que se infiltrou por todas as células do seu corpo.

Como sair disso?

Como estar pronto/a para amar de novo?

 

O único jeito de sair da dor é atravessá-la.

Dói. Ao descobrir que seu relacionamento todo foi uma miragem, que quem amou foi só você, o outro fingiu.

Você está cheio/a de desilusão, desespero, raiva e fúria. Você quer se vingar de toda essa dor causada por um ser que não é o que se apresentou a você para seduzir você. Esses sentimentos são mais que legítimos.

Você procura o médico para lhe receitar qualquer coisa que faça parar essa dor.

No entanto, não se anestesie, pelo menos num segundo momento, quando já tiver capacidade de sentir dor, permita-se sentir essa dor, vá fundo nela, chore o que for necessário, passe pelo luto.

Só assim a dor poderá ir embora. Poderá demorar mais para uns, menos para outros, mas acaba indo embora.

Você precisa deixar ir essas emoções tóxicas, para começar a ter espaço dentro de você para emoções boas. É preciso fazer uma faxina interna e jogar todo o lixo fora.

É preciso recuperar o seu coração. Ele está lá, mesmo que agora você ache que ele morreu.

 

Aprenda que todos esses sentimentos não são seus. Foram fabricados pelo abusador. Talvez você já tenha sofrido traição e essa traição atual entrou de carona na outra. Você estava vulnerável a traições. Então, seja compreensivo/a consigo mesmo/a, você não sabia quão fundo foi a ferida. Vá cuidando dela aos poucos, até cicatrizar. Não dá para esquecer a ferida, mas dá para conviver com ela a ponto de ela não afetar você mais. É por isso que cortar qualquer contato com o abusador é tão importante. Senão a ferida vai ser reaberta toda vez.

Aprenda a confiar na sua intuição. Agora que você já sabe como funcionam os predadores, esteja atento/a aos sinais, e não os desconsidere. Com certeza nesse relacionamento você percebeu os sinais e não deu atenção. No caminho da recuperação é importante a voltar a confiar em você mesmo/a.

Sua intuição irá avisá-lo/a se aparecer outro predador no horizonte.

Quanto mais faxina interior você fizer, melhor vai funcionar sua intuição. Você acabará distinguindo muito bem o que está certo e o que está errado, quem é sincero e quem não é. Então, só então, será a hora de abrir seu coração novamente.

 


ESTADO EMOCIONAL/PSICOLÓGICO DA VÍTIMA DE ABUSADOR EMOCIONAL

Você chega ao consultório como uma vítima de sequestro e de estupro.

A diferença é que o sequestro que você sofreu pode ter levado anos, sua vida inteira foi sequestrada, sua alma, seu coração, sua profissão, sua família, suas finanças.

O estupro não foi uma vez só, mas inúmeras vezes, e você só descobre isso quando constata com horror que jamais houve amor da outra parte, apenas uma estratégia de manipulação para obter de você o que o outro queria. Jamais houve honestidade, nem bondade, nem comprometimento.

Você foi traída no fundo do seu ser, naquilo que é mais caro, mais íntimo e mais vulnerável.

Ninguém acredita em você, nem você mesma. Até culpam você por ter caído nessa armadilha. Afinal, você, uma pessoa inteligente, sensível, ativa, como foi possível ser tão boba? Você também se culpa. Com certeza você fez algo de errado.

Criticar você por ter caído nessa armadilha é o mesmo que castigar alguém que caiu fora do barco no mar gelado e mal consegue se debater para ficar à tona.

Você nem sabe mais quem você é. Não sabe o que de fato aconteceu, pois nada faz sentido. Seus pensamentos e suas emoções estão num emaranhado incompreensível, ilógico e deprimente. Você se sente mentalmente desequilibrada, beirando à loucura.

Entra num círculo vicioso de raciocínios buscando sequências de causa e efeito, mas não encontra lógica alguma e não chega a lugar algum. Seus pensamentos circulam como insetos ao redor de um monte de lixo. Você entra no inútil raciocínio “e se”.  E a dor lancinante no coração grita mais alto do que qualquer outro grito possível, abafando os últimos laivos de equilíbrio.

A lembrança daquele sorrisinho dele de prazer, de divertimento, velado e ao mesmo tempo intencionalmente aparente é de gelar o sangue nas veias. Sorrisinho meio escondido de prazer enquanto você rasgava seu peito, chorava, se descabelava, tentando desesperadamente uma saída.

Nas fases do luto definidas por Elisabeth Kubler-Ross – negação, raiva, barganha, depressão e aceitação –, por vezes você volta à fase de negação dos fatos. Nem encosta na fase da aceitação ainda, muito menos na compreensão. Por vezes fantasia a volta para o estado anterior em que você era paparicada e “amada” pelo psicopata, e se sentia a rainha do mundo. É um orbitar obsessivo em torno do psicopata, uma obsessão que ele metodicamente criou em você.

Todos os seus valores viraram do avesso, seus amigos distantes, sua família afastada. Você perdeu sua posição profissional, nem consegue mais funcionar.

Nas tentativas de agradá-lo, para reconquistar a fase paradisíaca inicial, foi sacrificando tudo. Mas de nada adiantou, só piorou.

Pode apresentar síndrome de pânico, agorafobia, insegurança, instabilidade emocional, incapacidade de gerir sua própria vida, depressão, angústia, ansiedade, medo. O ciúme devora você porque você assiste à glória da felicidade perfeita da criatura com a pessoa que sucedeu você. Você é que não presta. Detalhes da sua vida, sua intimidade, são expostos a público e os dois zombam de você.

É preciso repetir: VOCÊ NÃO FEZ NADA DE ERRADO!

Que tipo de criatura se aproveita do amor, da bondade, do voto de confiança, da dedicação que o outro lhe dá só para sugar mais, tirar mais vantagem e depois destruir? E, ainda por cima, ter prazer em destruir?

Você precisa URGENTEMENTE de ajuda, um bom terapeuta que saiba pelo que você está passando e, acima de tudo, que saiba como ajudar. Vale qualquer recurso que a ajude a começar a por ordem na sua alma devastada. Pois você precisa falar, falar, falar, nem que seja milhares de vezes a mesma coisa, até botar para fora essa loucura toda, até se desintoxicar do veneno que se infiltrou em suas veias, até começar a ter espaço para respirar outra vez.

DESESPERO = SOFRIMENTO – (menos) SENTIDO esta é a definição de Victor Frankl, sobrevivente de campos de concentração, médico, psiquiatra, criador da Logoterapia, autor de O homem em busca do sentido da vida.
A vítima de psicopata perde o sentido de tudo, inclusive de si mesma. Seu sofrimento não tem sentido. Daí o desespero abissal.

Você perdeu as suas barreiras protetoras. Você foi traída e violentada e assim construiu um muro ao redor de seu coração. Você nem sabe se tem um coração ainda.

VOCÊ NÃO FEZ NADA DE ERRADO!

VOCÊ NÃO ESTÁ LOUCA!

(trecho do Manual de Sobrevivência para vítimas de psicopata, de Júlia Bárány, a ser lançado em breve)


VOCÊ VIVE COM UMA MENTALIDADE DE VÍTIMA? faça o teste e descubra

(criado por Pam Margetson, traduzido por Júlia Bárány, original em: http://www.pammargetson.ca/quizzes_victimmentaltity.asp)

 

Esse teste ajuda você a descobrir se vive com uma mentalidade de vítima que com certeza lhe rouba seu poder pessoal, ficando você à mercê dos outros. Responda sim ou não às seguintes afirmações:

 

SIM  NÃO

(   )   (   )  Minha primeira reação a um infortúnio é culpar alguém pelo que aconteceu.

(   )   (   )  Não importa o que eu faça, as coisas não vão realmente mudar para mim.

(   )   (   )  Costumo começar meus pensamentos com frases assim: “Eu não consigo…”,

“Eu não sou bom nisso…”, “Eu nunca vou ser capaz de…”.

(   )   (   )  Quando as coisas dão errado, eu tendo a me castigar.

(   )   (   )  Às vezes tenho sorte, mas quando coisas ruins acontecem é porque eu fiz

tudo errado.

(   )   (   )  Quando fico com raiva, raramente começo minhas frases com “eu”.

(   )   (   )  Quando converso com meus amigos, o assunto é quase sempre sobre minhas

dificuldades na vida.

(   )   (   )  Quando meus amigos me oferecem conselhos, costumo responder com:

“Sim, mas…” pois eles não sabem realmente como é difícil a minha situação.

(   )   (   )  Passo bastante tempo pensando sobre meus erros e fracassos passados.

(   )   (   )  Outras pessoas é que me fazem sentir como me sinto. Eu estaria muito mais

equilibrado/a não fosse por elas.

(   )   (   )  Estou sempre tão ocupado/a com trabalho e as coisas que preciso fazer para

sobreviver que não tenho tempo para fazer as coisas que quero.

(   )   (   )  Eu gostaria de fazer mais exercícios físicos e comer mais saudável, mas não

consigo agora.

(   )   (   )  Se eu não tivesse tantas obrigações me amarrando, eu poderia fazer as

coisas que realmente desejo fazer.

(   )   (   )  Algum dia eu encontrarei um novo parceiro/a que vai realmente mudar

minha vida. Por enquanto, só posso ter esperanças.

(   )   (   )  Eu devo ter feito algo realmente terrível numa vida passada porque nada que

eu faço dá certo.

(   )   (   )  Se eu tivesse mais ajuda, eu teria… (preencha você mesmo/a)

 

A coluna do SIM vale um ponto a mais quando preenchida.

A coluna do NÃO vale um ponto a menos quando preenchida.

Quando maior o número, mais provável que você tenha mentalidade de vítima.

Fazer-se de vítima é uma forma de ficar entalado/a em velhos padrões e pode ser a manifestação de raiva ou medo de mudanças que você guardou no seu inconsciente.

Se a coluna do SIM ganhou mais marcações, talvez seja uma boa solução você procurar ajuda para se livrar da síndrome de vítima e poder viver uma vida mais plena e feliz.


POR QUE É TÃO DIFÍCIL CONTINUAR A VIDA DEPOIS DE SAIR DE UM RELACIONAMENTO TÓXICO COM UM PSICOPATA OU NARCISISTA? 7

por Júlia Bárány

Você sai arrasada e se pergunta como é possível que o psicopata exiba felicidade no novo relacionamento. O que foi que você fez de errado? Por que o relacionamento de vocês não deu certo? Afinal você se esmerou de todos os jeitos possíveis, se dedicou, amou, se doou, e mesmo assim, não deu certo. Você sabe o quanto você entregou seu coração a esse homem.

Você se pergunta se não exagerou nas suas reações, pois o parceiro parece uma boa pessoa e foi você que estragou tudo.

Você se lembra do período cheio de felicidade, do início do relacionamento, quando vocês estarem junto parecia mágico e você sentia ter finalmente encontrado sua alma gêmea.

Agora, sofrendo e se lamentando, você se esquece temporariamente dos tempos tenebrosos, das frustrações, da raiva, das lágrimas e principalmente dos medos. Você se esquece quando o abusador enfiou a faca mortífera da desvalorização no seu coração.

Você foi triturada em sua autoestima até ficar totalmente devastada, ao ponto de não confiar nem na sua memória nem nas suas reações instintivas de autoproteção.

Você se sentiu responsável pelo relacionamento durante o relacionamento e continua se responsabilizando depois, sem perceber que você é que foi e continua sendo a vítima.

Você não leva em conta o quanto você se dedicou ao relacionamento para que ele desse certo. Você não leva em conta a raiva que sentiu com as tentativas frustradas, como se tudo que você fizesse se evaporasse em nada. Quanto mais você tentava, mais era desconsiderada, desrespeitada e ignorada.

Enquanto você se descabelava, o psicopata se divertia com o seu sofrimento.

Ele foi colecionando recursos e mais recursos para explorar você, controlar você e esmagar você.

Você ficou totalmente desnorteada com os maus-tratos intercalados com atenção especial e mimos, totalmente contrastantes.

Você quer voltar ao período de felicidade, você sempre se dá mais uma chance, mas esse período é fugaz e passageiro. Agora à distância, ou mesmo perto, se você caiu na armadilha de aceitá-lo de volta.

O médico desaparece e aparece o monstro, no ciclo interminável de abuso, manipulação e jogo, com insultos, desvalorizações, silêncio, e dissonância cognitiva e felicidade fugaz.

Você sente gratidão por cada momento feliz que vai diminuindo em duração e intensidade, até estar mergulhada totalmente no escuro.

Você está acabada.

Acorde, mulher, esse abusador não é o príncipe encantado que você insiste em manter nas suas lembranças. Isso é uma ilusão fabricada com o único e exclusivo intuito de caçar você. Porque você tinha algo que ele queria, seja sexo, dinheiro, posição social, profissional, uma casa para morar, comida, roupa lavada, uma fachada de respeitabilidade.

Agora ele quer sugar as últimas gotas de energia que você tem, pois é esse o alimento dessas criaturas parasitas.

Acorde, mulher, esse abusador não vale mais um milésimo de segundo de sua vida.

Reestruture sua vida do menos zero em que ela ficou. Sim, eles deixam destroços e perdas, e dívidas, e muita dor. Deixam um rastro de destruição da sua imagem, tentando fazer com que ninguém acredite em você. E quem poderia acreditar que exista tamanha barbaridade num ser que parece exatamente o contrário do que ele de fato é? Eles todos são assim, agem de forma semelhante, as diferenças são de estilo e de personalidade, de nível social e cultural. Na essência são sempre predadores dos seres humanos.

Então comece por acreditar em você mesma. Comece a acreditar em sua luz. Porque as trevas têm medo da luz. Faça sua luz brilhar cada vez mais.

Construa um muro de proteção ao seu redor, um muro de honestidade e integridade.

Procure cicatrizar suas feridas e use essa força para nunca mais cair na lábia de um abusador.

Procure a ajuda de profissionais que entendam pelo que uma vítima de psicopata passa. Não adianta falar com quem não tem ideia disso, pois eles podem retraumatizar você com proposições ocas, tolas, revoltantes como: “esqueça, vai viver sua vida” “é preciso de dois para um relacionamento não dar certo” “você foi boba em cair nisso, agora saia dessa, e deixe de ser boba” “vai ver que você entrou nesse relacionamento por causa de sua carência doentia, vai se tratar ” “você é que foi cega e não viu quem ele era”.

Não dê ouvidos a nada disso! Essas pessoas não sabem! Julgam este relacionamento como outro qualquer entre pessoas normais! O psicopata NÃO É UMA PESSOA NORMAL. Nem sei se é um ser humano. Para mim um ser humano se define como um ser que tem coração, que sente empatia, solidariedade, respeito, responsabilidade e amor.

E quando você tiver atravessado o inferno, do outro lado a espera uma vida plena e feliz que você nem é capaz de imaginar agora. Acredite!

Júlia Bárány


MEIAS-MENTIRAS 1

Uma das marcantes características dos psicopatas é a capacidade inigualável de mentir.

Todos nós pregamos mentiras, mas sempre temos algum objetivo específico.

Quando crianças, mentimos para evitar um castigo, para evitar magoar a mãe, por medo de sermos rejeitados diante de uma ação que consideramos má. Pequenos delitos dos quais nos envergonhamos geram pequenas mentiras.

Costumamos mentir para nós mesmos quando não queremos admitir um fato sobre nós que não nos parece adequado. Então montamos uma autoimagem omitindo esse aspecto. Mentimos quando um ente querido está morrendo e queremos nos convencer de que ele vai ficar bom, tentando evitar a inevitável dor da separação definitiva. Mentimos para a criança sobre um fato que ela ainda está incapaz de digerir.

Cada um de nós tem sua lista.

A cada situação se vincula um sentimento: medo, proteção, ilusão, rejeição, vergonha, dor.

Quando dizemos uma mentira que poderia ter sido evitada, sentimos arrependimento, e o impulso premente de reparar o erro. Quando percebemos que a mentira pregada prejudicou alguém, o remorso dói, e procuramos compensar o prejuízo. Uma pessoa normal não consegue colocar a cabeça no travesseiro e dormir em paz se sua consciência pesa.

No processo de amadurecimento vamos desenvolvendo nosso senso moral que não permite deslizes e, quando estes acontecem, sentimos uma necessidade premente de consertar as coisas. Um ser humano livre, portanto responsável, respeitoso e amoroso é um ser humano moral.

Os psicopatas são criaturas para quem mentir é uma diversão, um jogo, um espetáculo fascinante, um recurso de lhes gerar adrenalina. Eles mentem até quando a verdade poderia lhes ser mais vantajosa pelo simples prazer de mentir. Não têm arrependimento, responsabilidade, vergonha, solidariedade. Manejam os fatos de acordo com os seus interesses jamais se importando se estão sintonizados com a verdade. Peso na consciência é algo desconhecido para eles, afinal esse tipo de consciência lhes é inexistente.

Usam e abusam das meias-verdades, justamente para passar a impressão de verdade de algo que afinal das contas é meia-mentira. O primeiro pedaço verdadeiro arrasta atrás de si o falso, e o ingênuo alvo do psicopata não percebe essa engenhosa arrumação, engolindo tudo como verdade.

Uma declaração como: “Sempre pautei minhas atitudes na ética e na verdade” dita de forma enfática e aparentemente sem qualquer sombra de hesitação costumamos tomar como verdadeira, pois não dá para conceber que alguém possa mentir de forma tão descarada. Mas a falta de hesitação provém não de um coração puro e sim da ausência de escrúpulos.

Ética e verdade quando apenas declaradas, sem lastro na atitude, valem alguma coisa?

Ao ouvir a nossa intuição, percebemos a falsidade. O coração verdadeiro sabe. Mas é preciso desanuviar a intuição que foi sendo embotada com manobras bem arquitetadas pelo psicopata.

Um psicopata obriga suas vítimas a constantemente ter que provar a verdade e esse enredamento as faz duvidar de si mesmas. As distorções que ele opera nas mínimas coisas provocam um redemoinho de incertezas na mente de quem preza a verdade. “Eu nunca traí você. Como você pode duvidar de mim?” e você repassa alucinadamente na sua memória todas as provas da traição e começa a duvidar de sua capacidade de discernimento. Ele insiste que você está tendo alucinações por causa de sua carência doentia ou de seu ciúme exacerbado, com o exato propósito de desestabilizar você. Ele pegou emprestado de você um monte de dinheiro com promessas de devolver com juros acima do mercado. No entanto, cobra você por uma dívida ínfima em comparação com tudo que lhe deve, declarando que não deve mais por conta de todos os prejuízos que você lhe causou.

Essa desestabilização faz parte do programa de gradativa destruição de sua vítima.

Além disso, tem ainda a mentira na forma de injúria e difamação. Afinal, ele precisa fazer essa campanha para inverter a situação, ele passando a vítima e a verdadeira vítima – você – transformada em agressor.

A culpa de tudo é sua. Se o relacionamento não deu certo, foi você que não soube mantê-lo. Se os filhos são uns pobres coitados, inseguros, medíocres, foi você que não conseguiu ser boa mãe. Ele, ora, estava trabalhando duro para manter a família, ele, exímio pai que sempre ajudou a cuidar das fraldas e mamadeiras. Você não sabe ser boa mãe, por isso o seu filho é um indisciplinado e revoltado. Não é ele, o pai, que causa isso com sua falta de dedicação e de respeito e principalmente de amor. Pois as crianças sentem quando são amadas. E o psicopata finge que ama, não ama.

Até você se restabelecer e começar a separar o joio do trigo demora, às vezes demora um bom tempo. Mas é preciso iniciar essa viagem, e um dia você acaba atravessando o inferno e saindo para a luz.

Júlia Bárány

“Meia verdade é sempre uma mentira inteira” provérbio chinês

 


FOGOS DE ARTIFÍCIO NA RELAÇÃO COM UM PSICOPATA

Donna Andersen, com tradução livre de Júlia Bárány (original: https://lovefraud.com/10-realities-why-the-fireworks-of-a-romance-with-a-sociopath-are-duds/)

 

1

O que você vê: textos, e-mails, postagens bombardeando você

Realidade: você não é a única a receber tudo isso. A internet a as mídias sociais facilitam aos psicopatas bombardear vários alvos ao mesmo tempo. E não se engane, é exatamente isso que ele está fazendo

 

2

O que você experimenta: conversas de horas e horas

Realidade: o psicopata está obtendo informações sobre você que mais tarde usará para manipular você

 

3

Sua experiência: encontros e mais encontros – o psicopata quer estar sempre com você

Realidade: O psicopata sabe que conseguiu enganchar você, e está puxando a linha

 

4

Você recebe: Lindos presentinhos, mimos, ou presentes caros

Realidade: É bem provável que sejam reciclados ou roubados de outra parceira

 

5

Você experimenta: Sexo selvagem, apaixonado, tórrido

Realidade: Os psicopatas têm excesso de testosterona, fazem sexo com muita frequência e se entendiam logo. Você é, e sempre será, uma das muitas parceiras sexuais dele.

 

6

Você ouve: “Eu te amo” e seu coração se aquece e se eleva ao sétimo céu

Realidade: É mentira, porque psicopatas não sabem amar. Mas eles sabem que quando dizem “Eu te amo”, conseguem o que querem

 

7

Você vê: Olhos marejados, até lágrimas escorrendo pelas faces dele

Realidade: O choro do psicopata não é sinal de dor ou tristeza. É um ato planejado para evocar sua pena, para que você lhe dê o que ele quer

 

8

Você recebe: múltiplos telefonemas por dia, só para lhe dizer “olá, como vai, pensando em você”

Realidade: O psicopata está verificando o que você está fazendo, e aos poucos estabelecendo controle sobre você

 

9

Você ouve: “Somos almas gêmeas!” e você acha ter encontrado o amor de sua vida

Realidade: Isso não é uma verdade. É uma tática que o psicopata sabe que funciona, porque já usou com muitos outros alvos antes de você

 

10

Você ouve: Promessas de “e viveram felizes para sempre”

Realidade: O psicopata enganchou você com a promessa de realizar seus sonhos. Na verdade, ele montou uma armadilha na qual você já caiu sem perceber


SÍNDROME DE TRAUMA JUDICIAL

(por Júlia Bárány, baseado em artigo de Donna Andersen)

Você foi traumatizado, e agora precisa enfrentar no tribunal a pessoa que o traumatizou. Seja divórcio, guarda de filhos seja outra questão qualquer, saiba que o objetivo do seu oponente não é só ganhar a causa. O seu oponente irá usar todos os procedimentos legais e o judiciário para esmagar você.

Esse absurdo irracional frita o seu cérebro. Portanto, por cima do abuso original que você sofreu, as ações do seu oponente fazem você sofrer a Síndrome de Trauma Judicial, uma forma de TEPT, ou Transtorno de Estresse Pós-Traumático.

Como você pode se proteger quando é obrigada a enfrentar um manipulador coercivo na corte?

  • Em primeiro lugar, procure um amigo verdadeiro que possa acompanhar você e lhe dar apoio afetivo, emocional, psicológico.
  • Procure ajuda profissional de alguém que entenda o que é um manipulador narcisista, psicopata ou outro transtorno de personalidade. Não faça isso sozinha.
  • Prepare-se para as mais esdrúxulas e infindáveis mentiras. Na grande maioria das vezes, não há como provar que são mentiras.
  • Planeje estratégias que formem uma bolha de proteção ao seu redor.
  • Prepare-se para responder de forma apropriada quando for verbalmente atacada na corte.
  • Mantenha-se mentalmente protegida durante o litígio.
  • Se possível, obtenha um laudo de ter sido abusada e traumatizada.
  • Procure separar questões emocionais das questões legais.
  • Evite mediações “amigáveis” que jamais irão funcionar com um abusador, apenas lhe darão mais subsídios para ele continuar o abuso.
  • Saiba que o abusador aparecerá na corte com a maior serenidade e compostura, enquanto você estará tremendo por dentro e por fora. Ele vai fazer de tudo para transformar você em abusador e ele em vítima.
  • Ele vai fazer de tudo para extorquir o que você ainda tiver, seja dinheiro, posição social, ligações familiares, pois, não se engane, o objetivo dele é destruir você, não só ganhar a causa.

VIDAS DUPLAS DOS PSICOPATAS

Por Donna Andersen, traduzido por Júlia Bárány. Original em: https://lovefraud.com/sociopaths-and-double-lives-2/

 

Um repórter perguntou a respeito de pessoas que vivem vidas duplas. Por que eles o fazem? Eles conseguem manter vidas duplas por muito tempo? Quais são os perigos?

Assim como a maioria dos leitores de Lovefraud, (pessoas que viveram ou vivem com um psicopata) tenho certa experiência com isso. Meu ex-marido, James Montgomery, me traiu pelo menos com seis mulheres diferentes durante o nosso casamento de 25 anos. Ele teve um filho com uma das mulheres. Dez dias depois que eu o deixei, ele se casou com a mãe do filho, cometendo bigamia pela segunda vez. E é claro, ele levou um quarto de milhão de dólares de mim – gastando a maior parte do dinheiro com essas outras mulheres.

Nem todos que vivem uma vida dupla são psicopatas. Algumas pessoas, como espiões e polícia secreta estão apenas fazendo o seu trabalho. Mas todas essas pessoas que não têm uma razão legítima para criar uma existência alternativa – por que o fazem?

 

Exploração

 

Psicopatas são predadores sociais que vivem suas vidas explorando outros. A razão primordial de os psicopatas viverem vidas duplas provavelmente é porque isso lhes possibilita explorar muitas pessoas simultaneamente.

Isso vale especialmente para os parasitas que enxugam seus parceiros românticos. Eu soube de muitos e muitos casos em que os psicopatas, tanto homens quanto mulheres, se envolvem em dois, três ou até mais relacionamentos românticos ao mesmo tempo, e, de todos os seus parceiros, tomam dinheiro, sexo, carros, divertimento, o que for. Os psicopatas procuram suprimento, e quanto mais fontes de suprimento tiverem, melhor.

 

Promiscuidade

 

Outra razão para levarem vidas duplas é a promiscuidade dos psicopatas. A maioria deles tem um elevado apetite por sexo, uma energia surpreendente, e se entendiam com facilidade. Consequentemente, o que eles realmente querem nas suas vidas sexuais é variedade. Assim eles se engancham com uma variedade de pessoas, em lugares variados e se envolvem em uma variedade de atos sexuais.

Frequentemente, porém, os parceiros sexuais dos psicopatas não compartilham dessas proclividades de amplo espectro. Mas os psicopatas não se dão o trabalho de contar a verdade sobre o que estão fazendo. Os psicopatas simplesmente se entretêm em suas agendas sexuais com várias pessoas, mas mantêm todos separados. Às vezes isso requer elaborados estratagemas e manipulação.

 

Excitação do Jogo

 

Isso leva a outro ponto – muitos psicopatas simplesmente adoram o jogo. Eles adoram enganar as pessoas – um dos peritos chamou isso de “deleite da enganação”.

Por exemplo, pouco depois de nós noivarmos, meu ex-marido veio me visitar. Ele veio num carro estranho. Quando lhe perguntei de quem era o carro, ele me contou uma intrincada história sobre um amigo militar. A verdade era que ele tinha outra mulher que ficou com ele durante uma semana, e ele veio no carro dela até a minha casa. Eu não sei qual a razão que ele deu a ela para levar o carro, mas não importa o que tenha sido, era desnecessário, já que ele poderia ter vindo no seu próprio carro. Acredito que Montgomery só quis me visitar no carro dela pela excitação de enganar nós duas.

Fiquei sabendo de outros casos como esse. Uma mulher levou um homem com quem estava saindo a um jantar de negócios onde outro homem com quem ela estava saindo receberia um prêmio. Por quê? Pela diversão de ver um homem contorcer-se e outro sem noção do que estava acontecendo.

 

Máscara de normalidade

 

Finalmente, alguns psicopatas mantêm um emprego, uma família, um lar e vão à igreja para camuflar suas verdadeiras metas: sexo, drogas, crime e talvez até assassinato. É assim que alguns famosos serial killers funcionavam, como Dennis Lynn Rader, o assassino de BTK. Ele trabalhava, era um diácono na igreja, e matou 10 pessoas. Sua esposa durante 34 anos nunca soube de seu desejo de “amarrar, torturar e matar”.

Mesmo quando eles não são assassinos, muitos psicopatas estabelecem vidas “normais” para facilitar seus interesses de busca exploratória. Alguns psicopatas também se preocupam extremamente com sua imagem. Eles querem manter suas posições na sociedade, e ter um cônjuge, uma família, um emprego e um carro vistoso, tudo contribui para o seu status.

Em resposta a uma das perguntas no início deste artigo, muitos psicopatas podem, de fato, manter vidas duplas durante muitos, muitos anos. Eu soube de muitas mulheres que estiveram casadas por 10, 20, 25 anos e só depois descobriram chocadas o que seus maridos fizeram no decorrer dos seus casamentos inteiros.

 

Perigos das vidas duplas

 

Sim, suponho que alguns psicopatas enfrentam perigo por causa de suas vidas duplas – mas honestamente, não estou muito preocupada com eles.

Mas os perigos aos parceiros que desconhecem a situação são graves. Psicopatas drenam o dinheiro de seus parceiros para pagar suas atividades extracurriculares. Conforme relatei no meu livro: Bandeiras Vermelhas da Fraude do Amor – 10 sinais de que você está saindo com um sociopata, 20 por cento dos que responderam à pesquisa de Lovefraud disseram que seus parceiros psicopatas os infectaram com doenças sexualmente transmissíveis. Neste blog, eu tenho relatado pelo menos dois casos de homens que foram condenados por transmitir deliberadamente o HIV a seus parceiros sexuais que nada sabiam.

Mas mesmo quando os parceiros não são fisicamente prejudicados pelas vidas duplas dos psicopatas, o dano psicológico da traição é profundo. A descoberta da verdade conduz a dois tipos de choque: o choque das cruéis ações do psicopata, e o choque pessoal de que o parceiro esteva totalmente no escuro.

A recuperação, para os alvos, pode ser longa e difícil, e entrementes, os psicopatas simplesmente continuam em frente para uma nova vida.